Este é um livro inútil, talvez mesmo desnecessário, porque
profundamente moralista. Talvez presunção.
Peço desculpa. Eu não gosto nada de dizer mal de uma obra,
primeiro, porque dá muito trabalho a escrever, a rever, a editar e, no final, os leitores-compradores sempre escasseiam. Segundo, porque o meu tempo é limitado e tenho uma pilha de clássicos a exigir a minha atenção.
Acontece estar eu a viver num mundo de uma
violência atroz, sem sentido, abjecta, quase abstracta para o modo em que fui
educado e em que pretenderia continuar a existir. Por isso, quando me surge um livro onde
um super-narrador que convive com os personagens (mas por pudor não se dá a
conhecer), por achar que todos os seus amigos: a Laura, o Heitor, o Gabriel, a
Mafalda, o Hugo, as respectivas famílias, e todos os outros que vão aparecendo sem
sentido narrativo (desculpando-se o narrador, porque apenas assim, lhe apeteceu…), todos os
personagens, repito, são na prespectiva do narrador violentamente irresponsáveis, não
assumidos, mal resolvidos, gostam de apanhar pancada, talvez por incompreensão
ou apenas por serem néscios ou mesmo burros. Salve-se o pequeno Tomé que por ser
bebé talvez ainda não se tenha apercebido que nasceu com o pecado
original no coração…
(Aliás, fiquei com a mesma sensação de inutilidade da
violência, o que me deixa a pensar que tal sempre revela uma hiper-moralidade por
parte do criador, quando vi o filme «Parasitas» (Bong Joon Ho, 2019). Tanta
violência e má disposição sem sentido, apenas as consigo admitir infelizmente
na realidade. A arte tem outro sentido, acho, para mim. Sobre o assunto, e sem pensar
muito, lembro-me de obras contrárias como «Crime e Castigo» (Fiódor Dostoiévski,
1866), «Estilhaços» (Bret Easton Ellis, 2021), «Assim para Nós Haja Perdão» (A.M.
Homes, 2012) ou, mais recentemente, o filme «Sirât» (Oliver Laxe, 2025), nos
quais a violência e o incómodo surgem como pathos
narrativo para nos levar apenas a uma conclusão – se assim o desejarmos – no nosso
mais profundo sentimento.
Por outro lado, o autor enche-se de brio e convoca
alternadamente para a sua escrita tiradas jocosas sobre personagens populares
(que saudades de «O Que Diz Molero», Dinis Machado 1977) e rajadas
filosóficas à Ortega y Gasset sobre a estúpida inconsequência de cada uma
daquelas personagens.
(E já agora, o que faz ali no meio, a morte de uma freira ocasional,
a aparição de um Genghis Khan que se besunta de perdiz pútrida antes de ir para
a caça, de um qualquer jogador de futebol de nome Toninho Mamas, de um encontro libidinoso numa carpintaria entre César e Delfim?)
Enfim, desejo sinceramente longa vida, alegre e com saúde, para o autor, João Pedro Vala, e vou avançar para um próximo livro.
jef, agosto 2025
Sem comentários:
Enviar um comentário