O
título do segundo álbum da banda inglesa remete-nos para uma espécie de confissão escondida no fundo cósmico da décima segunda e última faixa. Aguardemos em silêncio por ela. Entre
electricidade estática e os sinais orgânicos de um animal encarcerado e
sobreaquecido, a voz feminina vai expondo como a comunicação foi sendo feita
com a pobre cadela enviada para testes siderais dentro do satélite soviético Sputnik
2, em finais de 1957. Não terá sido o único e primeiro cão a ser sacrificado, nem o
último animal a ser lançado para a morte no éter astronómico.
Isto
será apenas o fim condoído (ou o início inóspito) deste disco composto por
Margaret Fiedler e Guy Fixsen (voz, sampler, guitarra, baixo, Minimoog sintetizador,
percussão, trompete, programação e mistura). Depois vem Louise Elliott
(flauta), Lou Ciccotelli (percussão), Rob Ellis (tambores, piano preparado, percussão,
coro) e Alonso Mendoza (vibrafone).
Aliás
como todo o cosmos real também este disco tem uma audível propensão onírica. Os
sonhos são coisas etéreas que, caso não as agarremos com unhas e dentes, vão cair sistematicamente em saco roto.
É como se a electrónica apresentasse uma dimensão romântica já com saudades de «Blue
Lines» (Massive Attack, 1991) ou «Maxinquaye» (Tricky, 1995). Apenas, aqui, a
poética integra uma suave linha circular quase a tocar o poema sinfónico, tal a
finíssima minúcia da engenharia aplicada. Até à faixa número seis – “Bedbugs”.
A
partir daí, o trip-hop vai abraçando o drum’n’bass, o ritmo acelera e parece
querer assumir um duplo amor sentido também pelo groove do funk ou,
depois, por aquele muito mais antigo jazz rítmico de fusão (de Hermeto Pascoal
ou Weather Report). O ritmo acelera, a voz de Margaret Fiedler oferece-se à
palavra quase dita, delirantemente poética. A flauta e o vibrafone vai trazendo
os arcos melódicos ao meio mais terreno. “Shut Off / Curl Up”, faixa dez.
Desliguemo-nos do mundo, voltemos à posição fetal.
Enfim,
preparemo-nos para regressar à Terra, “Spooky Rhodes”. Há coisas que apesar de
tão simples permanecem sem explicação. "Dirty Feet".
Melhor
assim. Apaguemos a luz e que a alma de Laika nos proteja a partir do Paraíso dos
Cães.
jef
agosto 2025
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