terça-feira, 26 de agosto de 2025

Sobre o disco «Sounds of the Satellites» de Laika, 1997, Too Pure



 















O título do segundo álbum da banda inglesa remete-nos para uma espécie de confissão escondida no fundo cósmico da décima segunda e última faixa. Aguardemos em silêncio por ela. Entre electricidade estática e os sinais orgânicos de um animal encarcerado e sobreaquecido, a voz feminina vai expondo como a comunicação foi sendo feita com a pobre cadela enviada para testes siderais dentro do satélite soviético Sputnik 2, em finais de 1957. Não terá sido o único e primeiro cão a ser sacrificado, nem o último animal a ser lançado para a morte no éter astronómico.

Isto será apenas o fim condoído (ou o início inóspito) deste disco composto por Margaret Fiedler e Guy Fixsen (voz, sampler, guitarra, baixo, Minimoog sintetizador, percussão, trompete, programação e mistura). Depois vem Louise Elliott (flauta), Lou Ciccotelli (percussão), Rob Ellis (tambores, piano preparado, percussão, coro) e Alonso Mendoza (vibrafone).

Aliás como todo o cosmos real também este disco tem uma audível propensão onírica. Os sonhos são coisas etéreas que, caso não as agarremos com unhas e dentes, vão cair sistematicamente em saco roto. É como se a electrónica apresentasse uma dimensão romântica já com saudades de «Blue Lines» (Massive Attack, 1991) ou «Maxinquaye» (Tricky, 1995). Apenas, aqui, a poética integra uma suave linha circular quase a tocar o poema sinfónico, tal a finíssima minúcia da engenharia aplicada. Até à faixa número seis – “Bedbugs”.

A partir daí, o trip-hop vai abraçando o drum’n’bass, o ritmo acelera e parece querer assumir um duplo amor sentido também pelo groove do funk ou, depois, por aquele muito mais antigo jazz rítmico de fusão (de Hermeto Pascoal ou Weather Report). O ritmo acelera, a voz de Margaret Fiedler oferece-se à palavra quase dita, delirantemente poética. A flauta e o vibrafone vai trazendo os arcos melódicos ao meio mais terreno. “Shut Off / Curl Up”, faixa dez. Desliguemo-nos do mundo, voltemos à posição fetal.

Enfim, preparemo-nos para regressar à Terra, “Spooky Rhodes”. Há coisas que apesar de tão simples permanecem sem explicação. "Dirty Feet".

Melhor assim. Apaguemos a luz e que a alma de Laika nos proteja a partir do Paraíso dos Cães.


jef

agosto 2025

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