sábado, 30 de agosto de 2025

Sobre o disco «Meus Caros Amigos» de Chico Buarque, Philips, 1978








Meu Caro Chico

Há discos que o tempo e o intrínseco valor musical fazem saltar das prateleiras carimbadas por épocas, estilos e rótulos fáceis, entrando nos dignos escaparates da  minha música clássica. Há também canções que se ouvem numa época, numa certa idade, que as torna geneticamente nossas, transformando os seus direitos em património cultural sem região ou relógio. Verdi, Gershwin, Mozart, José Afonso, Monteverdi, Cole Porter, Jacques Brel, Bach, Tom Waits… A esta lista, felizmente, poderão juntar-se muitos outros nomes mas ficará sempre incompleta enquanto não incluir o do inventor de canções Chico Buarque de Holanda. Entre obras inesquecíveis, encontramos um disco único que consegue a proeza de juntar dez dessas canções, unidas pela poética abstractamente concreta, os arranjos sinfónicos, o fundamento dos coros e, porque não, o acaso dos meus ouvidos. Afinal, «Meus Caros Amigos» é um disco absolutamente meu! Lá dentro, temos a profundidade de “O Que Será (À Flor da Terra)”, o hino anti-machista “Mulheres de Atenas”, o acto de regeneração afectiva de “Olhos nos Olhos” e “Você Vai Me Seguir», a urgência social e ecológica de “Vai Trabalhar Vagabundo” e “Passaredo”, a ternura quase de embalar “A Noiva da Cidade”, o eterno retorno e a saudade de “Basta um Dia” e “Meu Caro Amigo”. Escutar de novo, agora, este disco é reencontrar lá dentro a melhor memória de mim mesmo e, ao mesmo tempo, reviver o prazer de ouvir cantar (e com que paixão!) em português. «Meus Caros Amigos» é um dos poucos discos a levar para uma certa Berlenga, se deserta, minúscula e longínqua.

«Meus Caros Amigos» de Chico Buarque, Philips, 1978

13 de Dezembro de 1993

jef

Sem comentários:

Enviar um comentário