sexta-feira, 16 de setembro de 2016

sobre o filme «O Gosto do Saké» de Yasujiro Ozu, 1962














Depois de ver «O Gosto do Saké» de Yasujiro Ozu, 1962.

Será um facto menos anacrónico do que despropositado, mas a realidade é que, ao sair do cinema, recordei «O Meu Tio» (1958) e «Playtime» (1967) de Jacques Tati. Talvez pelo rigor da arquitectura, das portas e das mesas, das taças de saké, dos electrodomésticos, das chaminés, dos reclames luminosos. Talvez pela banda sonora em tons de valsa, desanuviando pelo som a espessura da sequência e a austeridade dos planos. Talvez pela silenciosa e cândida ironia com que as personagens são caracterizadas, sempre sentadas, sempre a beber, quase sempre sorrindo. Talvez pela ternura que envolve de modo infalível o isolamento do protagonista. Sem dúvida pela inevitável nostalgia que, no final do filme, invade a tela, tristeza sentida, quando Shuhei Hirayama (Chishu Ryu), após casar a filha, verifica que o Tempo afinal não parou de correr e deixou a vida lá para trás. A modernidade sabe sobrepor-se à pontualidade de um relógio que está a ficar sem corda, mas não compensa a guerra, a perda, o erro, o remorso…
Afinal, quando o filme termina e saio do cinema, verifico que a vida não chegou a ser interrompida.

jef, setembro 2013

«O Gosto do Saké» (Sanma No Aji) de Yasujiro Ozu. Com Chishû Ryû, Shima Iwashita, Keiji Sada, Mariko Okada, Teruo Yoshida, Noriko Maki. Japão, 1962, Cores, 112 min.

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