Na
sequência penúltima de cenas, sabemos que a história vai chegar ao fim.
Estão ambos sentados na praia, Aida (Claudia Cardinale) lavou com o lenço a
ferida de Lorenzo (Jacques Perrin), ela dá-lhe o primeiro beijo nos lábios como
a encerrar uma longuíssima história de amizade, cumplicidade, compreensão,
necessidade, interajuda. Uma história de amor maior. Depois dá-lhe um outro na
face e assegura-nos que, afinal, a amizade é um ser muito mais complexo do que o
amor. Ele tem 16 anos e está apaixonado, sem saber bem o que é isso, ela é cantora de baixo cabaré, é
perseguida pela sua beleza, pela sua personalidade, pela sua intransigência
moral, e escorraçada talvez pelos mesmos motivos. Não há volta a dar, o
universo do amor está encerrado numa caixa de peias sociais e teias familiares.
Sabemos que, no final, o comboio os afastará para sempre. Sabemos ainda que, caso
não fosse um filme, jamais se esqueceriam um do outro.
Não
existem no cinema dois beijos mais castos. Não haverá história mais terna de
compreensão e ligação entre dois seres fadados para se separarem (ou para serem
separados). Não há fotografia a preto e branco mais densa e certeira, de
contornos mais nítidos sobre os olhares calados, trocados entre Aida e Lorenzo.
É
impossível não nos apaixonarmos por Claudia Cardinale e Jacques Perrin,
actores maiores.
jef,
julho 2021
«A
Rapariga da Mala» (La Ragazza con la Valigia) de Valerio Zurlini, Com Claudia
Cardinale, Jacques Perrin, Luciana Angiolillo, Renato Baldini, Riccardo Garrone,
Corrado Pani, Gian Maria Volontè, Romolo Valli, Elsa Albani. Argumento: Leo
Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Giuseppe Patroni Griffi, Valerio
Zurlini. Fotografia: Tino Santoni. Música: Mario Nascimbene. Produção: Maurizio
Lodi-Fè. Itália/ França, 1961, P/B, 120 min.
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