«Um
jornal é um fenómeno espiritual. Todas as coisas espirituais são individuais e
dinâmicas, são organismos vivos, são consciência e simultaneamente objectos da
consciência. A essência do espírito consiste em ter-se a si mesmo como objecto.
O espírito existe, segundo Kierkegaard, como um sonho dentro do Homem. Ter a
responsabilidade por um jornal é ser responsável pelo espiritual, pelo
profundamente humano.»
Suécia.
Aldeia de Avabäck. Uma segunda-feira no início do Inverno de 1942. Alguém
escreve uma história longa fantástica para um jornal cujo director acaba de lhe
enviar uma carta a despedi-lo, alegando que o jornalista inventa a realidade.
Ele
tenta escrever ao director explicando a veracidade da escrita e gostaria de ter
citado Goethe: «Então as crianças e os adultos costumam transformar o nobre e o
sublime em diversão, até mesmo em bufonaria – e de outro modo poderiam
suportá-lo e tolerá-lo?»
A
tuberculose avança e ele escreve sobre a história única da procura desenfreada
pela melhor receita familiar de pölsa,
uma iguaria tradicional feita de um guisado suculento e invernio de diversas
carnes. Receita que se guarda no seio de cada família. A demanda meticulosa,
quase científica, pela melhor das pölsas
é encetada pela estratégica amizade entre um germânico vendedor de tintas, de
origem suspeita, e um professor primário, de fino paladar.
«Com
a pölsa tudo é possível. Está para lá
da sociedade organizada e civilizada.»
E
eles encontram-na.
E
ele continua a escrever no lar onde está refugiado. E a autarquia diz que não
pode gastar mais dinheiro com ele, que ele rejuvenesce escrevendo. Nem mais um papel.
Mas ele contém todo o mapa da Suécia na cabeça. Também sabe como ninguém onde se
encontra o filão de ouro dentro da ignota montanha Avaberg. E desenha-a. Tal como
o teria feito o seu compatriota Nils Holgersson se não viajasse através da
Suécia no dorso de um ganso, movido pela extraordinária Selma Lagerlöf.
Uma
deliciosa aventura sobre a importância da filosofia, do jornalismo e da pölsa.
jef,
julho 2021
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