terça-feira, 7 de junho de 2022

Sobre o filme «A Caixa» de Lorenzo Vigas, 2021






















Um filme onde a violência extrema é a todos níveis condensada no olhar de um adolescente que, no México, vai recolher os restos mortais de seu pai encontrados numa vala comum. Porém, Hatzín (Hatzín Navarrete) devolve a urna afirmando haver um erro de identificação e telefona à avó, com quem vive, dizendo-lhe que aguarda esclarecimentos e até arranjara emprego. Porém, a determinação férrea de Hatzín fá-lo perseguir um homem que se parece com a memória que tem do pai. Um homem grande, forte e violento que possui um esquema atroz de angariação de mão-de-obra escrava para trabalhar nas fábricas de têxteis onde a exploração, o esgotamento e a morte são apenas moedas de troca do lucro comercial.

Num filme, onde a palavra parece recolher-se perante o olhar sagaz e a tenacidade silenciosa de Hatzín, o realizador deixa ao espectador a solução de praticamente todas as deixas da intriga. A determinação e o desejo em encontrar um pai são maiores. Porém, nada parece ser ou estar certo face à entrega a um adolescente quase criança de um mundo pantanoso e trágico. A morte é apenas um facto concreto e definitivo. Apenas umas ossadas recolhidas dentro de uma urna. Não interessa muito de quem são. A verdade perante a raiva da decepção pouco importa. O regresso impõe-se. O futuro nem tanto.


jef, junho 2022

«A Caixa» (La Caja) de Lorenzo Vigas. Com Elián Gonzalez, Hatzín Navarrete, Hernán Mendoza, Cristina Zulueta. Argumento: Paula Markovitch e Lorenzo Vigas. Produção: Charles Barthe, Michael Hogan, Kilian Kerwin, Brian Kornreich, Miguel Mier, Alejandro Nones e John Penotti. Fotografia: Sergio Armstrong. México / EUA, 2021, Cores, 90 min.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário