O crédito da morte. O
débito da vida.
Este filme parte de uma
premissa radicalmente simples. A simplicidade com que a morte fundamenta a vida
quando esta se conclui. O silêncio que cai sobre a pele que arrefece, sobre as
palavras que não foram ditas. Talvez sobre a pele que cobre as próprias
palavras. Uma película que, nesses breves momentos (90 minutos de projecção), é
rasgada deixando a família sem refúgio, sem presente, sem compreensão. Logo
depois, a sociedade reorganiza-se, volta a cimentar a distância, revestindo as
palavras com nova pele, novos compromissos, nova hipocrisia. Novos silêncios. A
simplicidade deste filme é tão irremediável como a própria morte. O branco, o
negro e o vermelho, a separar. A mazurca de Chopin e a sarabanda de Bach, a terminar.
O amor, o desamor e o medo, em contratempo e contracampo. A imagem que traz o nosso
olhar para perto, infinitamente perto, até ferir, da derme, do grito, do falso
sorriso, dos lábios, das mãos, das sombras, da dor. E, por fim, uma cena
demasiado simples para não ser dolorosa. Um plano a fechar-se sobre uma página
de diário, as quatro mulheres reunidas, um baloiço no parque, um lapso de
felicidade. Este é um filme para ser simplesmente sentido, explicá-lo é
destruí-lo (como dizia João Bènard da Costa).
jef, fevereiro de 2014
«Lágrimas e Suspiros» (Viskningar Och Rop). Com Harriet Andersson, Liv Ullmann, Ingrid Thulin, Kari Sylwan, Anders
Ek, Erland Josephson, Hening Moritzen. Suécia, 1973, Cores, 91 min.
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