sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sobre o filme «Mãe e Filho» de Calin Peter Netzer, 2013














A viscosidade da lixa.
A ideia imediata que tenho de cinema europeu de vocação «social» (preferiria escrever «socialista» mas teria de gastar muitas linhas para dizer o que não quero dizer) vai directa aos filmes de Jean-Pierre e Luc Dardenne e ao cinema romeno. De entre as imagens dessa Roménia dura, rigorosa, empenhada, programática, surge a enorme força (poder) de uma actriz: Luminita Gheorghiu. Quem a vê neste filme, nunca mais a esquece, como nunca mais a esquecemos em «A Morte do Senhor Lazarescu» (Cristi Puiu, 2005) ou no papel minimal em «Código Desconhecido» (2000) de Michael Haneke, outro inveterado cineasta «socialista». «Mãe e Filho» é um filme para consagrar Luminita Gheorghiu, para lhe dar a tela toda, para oferecer ao espectador uma personagem (Cornelia) complexa, viscosa, áspera, quase feia, composta por camadas e silêncios, deslocando-se obstinada e obcecada entre movimentos de câmara excessivos. Contudo, o «excesso de câmara» é interrompido, concentrando o olhar ao espectador, nos três momentos decisivos do filme: (a) o encontro de Cornelia com a testemunha do acidente, (b) o momento em que a nora expõe a intimidade do seu filho; (c) o confronto final com a perda irremediável de um filho (ou do seu amor). As três derrotas de Cornelia. Um filme dedicado à dramaturgia da derrota que, em todo o caso, será sempre a conquista de um certo Herói / Heroína.

jef março 2014
«Mãe e Filho» (Pozitia copilului) de Calin Peter Netzer. Com Luminita Gheorghiu, Bogdan Dumitrache, Natasa Raab. Roménia, 2013, Cores, 112 min.

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