Amor com Amor se paga.
Favor com Favor se paga. Cristian Mungiu coloca uma pedra e os estilhaços que ela
provoca na serena atmosfera de uma casa de família simples. E honesta.
Inicialmemente.
A intifada!
Romeo (Adrian Titieni), o
pai, Magda (Lia Bugnar), a mãe, e Eliza (Maria-Victoria Dragus), a filha.
Respeitado médico, bibliotecária em estado depressivo, estudante
pré-universitária esforçada e inteligente. A cor, entre o pastel e o sépia,
parece zelar pelo afecto de uma família empenhada em que Eliza receba uma bolsa
e vá estudar para Inglaterra. Também a música de Haendel e o Lacrimosa de
Vivaldi soam roufenhos, velados, saídos de altifalantes esquecidos pelo enquadramento.
Mas o empenho e o amor não
chegam para contrariar os acasos infelizes da vida. E o favor ressarcido
talvez seja a solução. A acção carece necessariamente de uma reacção. Ou seja, exige
consequência e Cristian Mungiu, mestre da intriga social e do suspense
realista, coloca o espectador em perseguição de Romeo, enervando-o com a luz
solta, com o som claro dos estilhaços, com os compromissos e os respectivos
reflexos.
E há um telefone que não
pára de tocar e não é atendido.
E há uma moral a ser
conquistada por amor à verdade.
Mas também há a verdade do amor.
O mundo começa a desabar sobre o amor e sobre a verdade.
O espectador vai ficando desarmado, testemunha e juiz de um filme que foi apresentado, em Portugal, pela
magistrada Maria José Morgado.
Que atire a primeira
pedra…
jef, dezembro 2016
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