sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sobre o filme «O Exame» de Cristian Mungiu, 2016














Amor com Amor se paga. Favor com Favor se paga. Cristian Mungiu coloca uma pedra e os estilhaços que ela provoca na serena atmosfera de uma casa de família simples. E honesta. Inicialmemente.
A intifada!
Romeo (Adrian Titieni), o pai, Magda (Lia Bugnar), a mãe, e Eliza (Maria-Victoria Dragus), a filha. Respeitado médico, bibliotecária em estado depressivo, estudante pré-universitária esforçada e inteligente. A cor, entre o pastel e o sépia, parece zelar pelo afecto de uma família empenhada em que Eliza receba uma bolsa e vá estudar para Inglaterra. Também a música de Haendel e o Lacrimosa de Vivaldi soam roufenhos, velados, saídos de altifalantes esquecidos pelo enquadramento.
Mas o empenho e o amor não chegam para contrariar os acasos infelizes da vida. E o favor ressarcido talvez seja a solução. A acção carece necessariamente de uma reacção. Ou seja, exige consequência e Cristian Mungiu, mestre da intriga social e do suspense realista, coloca o espectador em perseguição de Romeo, enervando-o com a luz solta, com o som claro dos estilhaços, com os compromissos e os respectivos reflexos.
E há um telefone que não pára de tocar e não é atendido. 
E há uma moral a ser conquistada por amor à verdade. 
Mas também há a verdade do amor. 
O mundo começa a desabar sobre o amor e sobre a verdade.
O espectador vai ficando desarmado, testemunha e juiz de um filme que foi apresentado, em Portugal, pela magistrada Maria José Morgado. 
Que atire a primeira pedra…

jef, dezembro 2016

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