A íntima distância da família.
Ninguém, como Ozu, filma essa fina
película insolvente feita de amor, silêncio, cerimónia e mal-entendidos.
Desconheço se os cinéfilos inventaram algum termo especial para classificar tal
técnica cinematográfica. «Campo-contra-campo-a-favor-do-campo»? Todas as personagens
são colocadas em paralelo, em planos desfasados, como se um papel vegetal estivesse
sobreposto à imagem e Ozu se dedicasse minuciosamente a copiá-la, alterando-a.
Todas as frases nos diálogos são compassadas, possuem uma fracção ínfima de
silêncio entre elas. Ajuda a repensar cada palavra, a sopesar cada olhar,
provoca-lhes um ligeiro atraso na acção mas amplia-lhes a importância, a
objectividade. Mesmo muitos dos títulos dos seus filmes reflectem essa demora
consciente: o Outono vai terminar, a Primavera é tardia. As novas gerações amam
mas impacientam-se, as gerações anteriores aceitam esse amor mas escudam-se na
memória. A música é ternamente alegre antes do drama, soa em tons menores antes
do humor. A Grande Guerra está lá, o passado omitido, também a Grande América,
o presente imposto. Tudo em simultâneo, mas com desfasamento… Afinal, a vida é
mais simples do que nós sentimos, mas para a compreendermos é preciso atrasar (ou
adiantar) o relógio. Ozu ajuda-nos a interpretar esse lapso familiar tal como,
anacronicamente, ele nos é devolvido pelo Tempo.
A melhor definição para Nostalgia.
jef, agosto 2014
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