domingo, 18 de fevereiro de 2018

Fogo preso















Fogo preso

Ser-se do corpo como jamais seremos
Guardar-se nele o sopro constante do marinheiro
Sabendo que da maresia receberemos
O exalo que por vezes é tão breve, tão primeiro.

Seremos sempre nos olhos o seu olhar
Recebendo o quieto instante que o mar lavra
E que nos seus lábios sabemos vão guardar
A onda mais forte que é do oceano a palavra.

Deixemos à águia o roubo agrilhoado de Prometeu
Que o barro da sua pele no peito aqui moldou
Tomando por deus o corpo que o desejo concedeu
E o fogo escuro que o frémito então abreviou.

Esqueçamos por agora de Ulisses a ausência
Reclamando a sede que o mar assim negou
Recebendo-a pelo sal um beijo que na carência
Em uma praia que de tão longe nos aproximou.

jef, fevereiro de 2018


«Prometeu Agrilhoado» de Nicolas Sébastien Adam, 1762, Museu do Louvre, Paris.

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