domingo, 4 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «O Verão do Skylab» de Julie Delpy, 2011













Sim. Nutro um amor especial por Julie Delpy. Começou por uma paixão colectiva juntamente com o actor Ethan Hawke, unidos nos filmes de Richard Linklater. «Antes do Amanhecer» (1995), «Depois do Anoitecer» (2004), «Depois da Meia-noite» (2013).

Julie Delpy faz filmes inteligentes, contidos e carregados de uma alegria emocionante, familiar, onde as relações afectivas tomam o lugar principal na cadeia narrativa. A ‘família’ é a própria história. A ironia é uma das suas armas, outra será esse modo humano de dizer que todos querermos ser diferentes apesar de parecermos todos iguais. Ela é meio francesa e meio americana e usa o facto para brincar com o tradicional confronto, sempre com um pé num continente e outro no seguinte. Um pé na realização, outro na representação ou no argumento. Trabalha com amigos e isso nota-se na epiderme das suas comédias. Filma de modo descomprometido, como se estivesse em casa, e ainda consegue colocar os filmes no circuito comercial.

Em «O Verão do Skylab», é anunciada a possibilidade de queda de um pedaço do famoso satélite em solo francês, mais concretamente na Bretanha onde a família da avó Amandine está reunida para comemorar o seu aniversário. Julho de 1979. Amandine tem seis filhos, respectivos genros ou noras, uma carrada de netos. Vive ainda com ela um irmão que vive num mundo à parte, o Tio Hubert (Albert Delpy, pai da realizadora e cúmplice frequente nas suas aventuras).

O filho Jacquot é casado com Anna. São pais de Albertine que tem 10 anos e ficará com a avó o resto das férias. Jacquot e Anna chegam de Paris, são intelectuais e de esquerda, trazem o Maio de 68 na ponta da língua. Mas são os únicos. Por isso, a aniversariante roga para que não se discuta política à mesa. Nem a liberdade, nem a emancipação da mulher, nem a Indochina, nem a Argélia. Mas Jacquot, tal como a realizadora, gosta de discutir e contar histórias. (A história da sereia e do tubarão quando se dirigem para a praia de Renault 4, é única!)

«O Verão do Skylab» é um filme muito simples, com um monte de personagens que, afinal, se reúnem num apenas. A família. Ali estão todos os assuntos que lhe dizem respeito, num certo país, numa certa época, e de modo encantadoramente inocente, trocista, carinhoso… 

É bom rever «O Verão do Skylab» quando o frio ainda nos lembra o solstício de Inverno.

jef, fevereiro 2018
                                                                  
«O Verão do Skylab» (Le Skylab) de Julie Delpy. Com Julie Delpy (Anna), Noémie Lvovsky (Tia Monique), Bernadette Lafont, (Avó Amandine), Emmanuelle Riva (Avó Prévost – Mémé), Eric Elmosnino (Jean), Marc Ruchmann (Tio Loulou), Lou Alvarez (Albertine), Vincent Lacoste (Christian), Aure Atika (Tia Linette), Sophie Quinton (Tia Clémentine), Valérie Bonneton (Tia Micheline), Denis Ménochet (Tio Roger), Jean-Louis Coulloch (Tio Fredo), Michelle Goddet (Tia Suzette), Albert Delpy (Tio Hubert), Candide Sanchez (Tio Gustavo), Lily Savey (Sissi), Chloé Antoni (Valérie), Maxime Julliand (Pierre), Félicien Moquet (Jean-Luc),
Antoine Yvard (Philippe), Anne-Charlotte Moquet (Catherine), Angelo Souny (Henri), Léo Michel-Freundlich (Robert), Noah Huntlez (Jonathan), Karin Viard (Albertine adulta), Lee Delong (Jessica). França, 2011, Cores, 109 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário