quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «15:17 Destino Paris» de Clint Eastwood, 2018












Terei eu de esquecer Clint Eastwood, já que não poderei esquecer Dirty Harry?
Terá ele enlouquecido na deriva republicana e paranóica do herói americano?
O que será feito da entidade que idealizou «As Pontes de Madison County» (1995), «Mystic River» (2003), «Million Dollar Baby» (2004), «Cartas de Iwo Jima» (2006) ou «Gran Torino» (2008)? Ter-se-á alheado da figura que representa para o cinema mundial?
Claro que não está em causa o heroísmo dos jovens americanos (e do britânico Chris Norman) que conseguiram neutralizar a catástrofe que o terrorista Ayoub El Kahzzani pretendia efectuar no dia 21 de Agosto de 2015, no comboio de Amesterdão para Paris com 554 passageiros a bordo.
Sim, sublinho, eles são heróis.
Antes pelo contrário, acho que o maior problema de Clint Eastwood é exactamente colocar em ridículo os três amigos, Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone, levando-os à atroz posição de representar as personagens de Anthony, Alek e Spencer. Eles próprios dentro da sua própria história. E quão maus actores são!
Pior é a reconstituição série C das suas infância e juventude, fazendo o espectador relacionar a religiosidade infantil, o gosto de brincar à guerra, a insubordinação escolar, a família monoparental, o falhanço na escolha da carreira militar, com a construção e a consciência do Ente Americano. Parece uma caricatura. Fico com pena daqueles rapazes de fundo tão bondoso.
Enfim, que fique do filme as imagens da justa condecoração e do discurso de François Holland no palácio do Eliseu.  
Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone mereciam muito melhor, mereciam que lhes fossem douradas ou desculpadas as falhas, como sempre o fizeram aos heróis antigos.
E, já agora, nós também merecíamos melhor, caramba!

jef, fevereiro 2018


«15:17 Destino Paris» (The 15:17 to Paris) de Clint Eastwood. Com  Jenna Fischer, Judy Greer, Lillian Solange Beaudoin, Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone, Paul-Mikel Williams, Max Ivutin, Bryce Gheisar, Cole Eichenberger e William Jennings, Ray Corasani. EUA, 2018, Cores, 94 min.

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