domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «Beuys» de Andres Veiel, 2017



















O que atrai no documentário de Andres Veiel é o próprio objecto em que se centra: o artista alemão Joseph Beuys. Um ser superactivo e fremente, aguardando que o dia que chegará venha resgatar a liberdade do artista que vê na arte o objecto imprescindível para transformar a sociedade. A arte, o tal objecto ao alcance de todos, assim como deviam ser a academia e a política. A arte, a ser praticada e criticada por todos, o verdadeiro trampolim para um certo novo mundo surgido de uma revolução e de um sorriso.

Tento recordar.

Joseph Beuys correu muito e criou polémica. Naturalmente, divertiu-se.
Estudou medicina, serviu a Luftwaffe, teve um acidente na Crimeia. Quase morreu. Foi salvo pelos tártaros que o curaram com gordura e cobertores de feltro. Usou a gordura de porco em degradação em salas de exposição, forrou pianos e galerias de feltro. Executou «A Matilha», com uma carrinha Volkswagen e 24 trenós. Mostrou-se como era, com uma lebre morta nos braços. «Como Explicar Desenhos a uma Lebre Morta» Em Kassel, pretendeu disseminar 7.000 carvalhos por 7.000 pedras que se espalhariam para outras cidades. «7.000 Eichen». Em Nova Iorque, fechou-se durante dias numa sala com um coiote. «Eu Gosto da América e a América Gosta de Mim». Fundou diversos movimentos estudantis, ajudou a organizar o partido Os Verdes. Foi expulso da academia por insubordinação. A sua obra foi exibida em retrospectiva no Museu Guggenhein de Nova Iorque.

Nasceu em Krefeld, 1921. Faleceu em Düsseldorf, 1986.


Teve uma vida do caraças, pelo que me é dado perceber através de um documentário apressado, caótico, tentando imitar a pressa estética do artista mas esquecendo que existem apenas três ou quatro modos de contar uma história, seja ela ficção ou documental. Fiquei confuso a desejar saber mais sobre a obra, não sobre a fascinante persona «Beuys». Um filme deslumbrado por um milhão de belos retratos de Beuys mas que, por superávido, ultrapassam a própria estética criada por um ser angustiado e bondoso, triste e enérgico, que não tinha tempo para dormir.

Qualquer coisa de aventureiro, solitário, estético e intransigente. Qualquer coisa de Jacques Brel, qualquer coisa de Tintin.

jef, fevereiro 2018

Sem comentários:

Enviar um comentário