quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «Olhares, Lugares» de Agnès Varda e JR, 2017





















Existe um enorme potencial de ternura na cinematografia de Agnès Varda (e.g. «Os Respigadores e a Respigadora» 2000, «As Praias de Agnès» 2008). Esse pathos que aproxima e cativa vem de um diálogo que a realizadora tem vindo a promover entre o tempo que se esgota sobre a memória e a aproximação social com o trabalho e a humanidade que o pratica. Agnès Varda tem 89 anos, tem uma longa carreira no cinema e na fotografia, vê mal, mas não é por isso que se isola.

Pelo contrário, Agnès Varda convoca o artista plástico JR que promove arte de rua através de enormes fotografias coladas de modo efémero em paredes e em grandes planos públicos. JR tem 34 anos, usa sempre chapéu, vê sempre através de óculos escuros e conduz uma carrinha-photomaton de onde saem alguns dos retratos gigantes.

Juntando dinheiro através de donativos, a realizadora e o artista plástico resolvem praticar um acto social e expor em ponto gigante diversas histórias encantadas, íntimas, da história social de uma França que também se vai escoando, como o olhar desfocado de Agnès ou as horas da avó de JR, que fala pouco.

Este filme, para quem tiver a capacidade de o compreender e de se comover, é exactamente sobre o fim do tempo. O fim do nosso tempo. Contudo, e por paradoxo, é também sobre a alegria da criatividade libertada de escoras ou baias. Ou seja, um filme sobre o rigor da liberdade e a arte de a lançar no futuro.

jef, fevereiro 2018
                                                                 

«Olhares, Lugares» (Visages, Villages) de Agnès Varda e JR. Música de Matthieu Chedid. Documentário. França, 2017, Cores, 89 min.

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