quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «Linha Fantasma» de Paul Thomas Anderson, 2017

















É um filme deslumbrante.
Vivam estes três enormes actores: Daniel Day-Lewis (Reynolds Woodcock), Vicky Krieps (Alma) e Cyril (Lesley Manville) que se desdobram em planos grandes de uma tensão luminosa, em guerrilha amorosa, de cortar a respiração, numa luta surda entre o amor, o poder, a solidão e a angústia pela perfeição no trabalho, pela ausência do resto, pelos segredos, pelos silêncios! Pela obsessão do ritual!

E não são apenas as tesouras a esgarçar os tecidos, ou as costureiras, perfeitas, a costurar o assombro, ou a música original de Jonny Greenwood (é um pecado sair-se da sala sem que terminem os últimos acordes). É o ódio instalado no rosto de Reynolds quando é importunado pelo raspar da faca na torrada áspera, o chá a cair de alto em fio na chávena, preponderante, invasivo. O som impressiona visivelmente!
Tudo envolto num guarda-roupa tão inesquecível quanto o são os chapéus nas corridas de Ascot em «My Fair Lady» (George Cukor, 1964) ou os vestidos no baile em «O Leopardo» (Luchino Visconti, 1963).

O confronto dos olhares de Reynolds, Alma e Cyril é único. Quem primeiro baixar os olhos, é fulminado! Nesta guerra dos comportamentos exemplares, da exemplar educação, do mais fino rancor contido, do amor mais aflitivo, ninguém perde. Por isso, também ninguém morre!

E se houver dúvida sobre a importância visual e sonora deste filme que se reveja a cena fulcral da confecção, apresentação e deglutição da omelete de cogumelos.

Apenas fica o espectador mesmo a ganhar com o esplendor da luz nas escadas, com esse amor infinito.

Repito: este é um filme deslumbrante! Viva o cinema digital!

jef, fevereiro 2018


«Linha Fantasma» (Phantom Thread) de Paul Thomas Anderson. Com Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Camilla Rutherford, Vicky Krieps. Fotografia: Paul Thomas Anderson, Música: Jonny Greenwood, Guarda-roupa: Mark Bridges. EUA, 2017, Cores, 130 min.

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