terça-feira, 19 de junho de 2018

Sobre o filme «As Praias de Agnès» de Agnès Varda. França, 2008


















O caminho que os filmes de Agnès Varda têm levado seria resumido como o caminho da Ecologia. No primeiro sentido da palavra. O caminho da casa, da infância, do retorno ao que nós fomos, ainda somos, mas simultaneamente já desapareceu. A memória tenta recuperá-lo mas vai-lhe alterando os contornos. Agnès Varda tem consciência do facto. Usa-o como modo narrativo.

O caminho de «As Praias de Agnès Varda» também é ecológico no segundo e mais recente significado da palavra. Ela recicla todos os materiais-memórias, sabendo que reciclar é buscar no passado para construir uma ponte para o futuro, e deste para um Futuro Novo. Agnés Varda tinha 72 quando realizou «Os Respigadores e a Respigadora», 80 anos quando filmou as suas praias. Aos 90 anos, realiza «Olhares Lugares» sobre as faces e as paisagens francesas que se vão desvanecendo. Mas ainda existem.

Por isso, ela usa espelhos e fotografias. Anda para trás. Obriga outros a recuar. Fala da guerra, de judeus e da sua perseguição, fala da América e das lutas estudantis, fala das viagens com os irmãos e os pais pela Bélgica, por França, de carro, de barco, em fuga. Fala das suas exposições de fotografia. Fala de Jacques Demy, dos filhos e netos. Fala das suas casas e dessa reconstrução eterna na vida que se escoa pelos dedos do dia que chegará. Até ao último.

Agnès Varda fala-nos desse último dia mas sempre com a alegria da criatividade e diz que sempre poderemos comemorar um outro e próximo aniversário, onde nos oferecerão oitenta e mais uma vassouras. Temos é que rir do passado e sonhar com o futuro.

jef, junho 2018

«As Praias de Agnés» (Les Plages d`Agnès) de Agnès Varda. França, 2008.

Sem comentários:

Enviar um comentário