terça-feira, 26 de junho de 2018

Sobre o filme «Western» de Valeska Grisebach, 2017

















É um filme extraordinário, no primeiro sentido da palavra. Fora do comum. Que questiona o homem na sociedade que pode não ser a sua. Que nos pergunta o que andamos por aqui a fazer.

Uma empresa alemã desloca um grupo de trabalhadores para o extremo da Bulgária, perto da fronteira grega. Vão construir uma barragem hidroeléctrica. Mas a água escasseia.

Esta é a história de Meinhard (Meinhard Neumann), um desses trabalhadores alemães. Fala muito pouco, observa mais. Observa o seu passado. Sente-se peixe fora de água mas tem a vocação interior de ir mais longe. De chegar à aldeia que está próxima.

«Western» é um filme que começa já a história vai a meio e termina quando ainda não se disse tudo. A vida é mesmo assim! É esse o mote extraordinário que coloca Meinhard do lado de fora, apesar de chorar quando fala do irmão ao seu «irmão» búlgaro. Talvez a cena mais sintomática do filme.

Outra cena que atesta o teor político do filme é o hastear da bandeira alemã como posto de um empório em solo hostil. Quase cómica. Uma bandeira que acaba por ser resgatada do curso do rio, das mãos dos búlgaros bêbados, quase represália do resgate de um certo chapéu feminino. Machismo? Xenofobia? Resistência? Imperialismo? Antropologia?

Meinhard tudo questiona no silêncio de um cigarro e de um copo. Não se quer intrometer mas está no centro do mundo, no centro do seu mundo. Não se pode excluir desse mundo que, afinal, búlgaro ou alemão, não é o seu. Apenas, um cavalo branco é o garante da exigida integridade (ou liberdade) existencial.

A oeste nada de novo, parece o título fulcral significar.

jef, junho 2018

«Western» de Valeska Grisebach. Com Meinhard Neumann, Reinhardt Wetrek, Syuleyman Alilov Letifov. Alemanha / Bulgária / Áustria, 2017, Cores, 119 min.

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