sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sobre o filme «Tabu: Gohatto» de Nagisa Oshima, 1999


















Talvez o engano, essa estratégia da narrativa para que a atenção se lhe cole, esteja contido sobretudo no título: «Tabu». A lei que que não pode ser transgredida. Estamos no Japão, final do século XIX, os clãs (ou seitas) de samurais lutam entre si para que a honra e a lei não sejam ultrapassadas. Entre os grupos de instrução castrense a homossexualidade não é uma lei que não deve ser transposta, ou seja, a homossexualidade não é tabu.

No entanto, quando um muito jovem instruendo é integrado no grupo, belo e andrógeno, a hierarquia militar é perturbada. Pelo amor, talvez antes, pelo desejo do amor. O engano e a traição não podem ser tabu. Passam a ser lei.

Nagisa Oshima vai levando a relação de poder e sedução entre os militares por caminhos sinceros ao som da música de Ryuichi Sakamoto, até que o espectador deixa de poder olhar os rostos dos executores e as figuras passam a sombras que teimam em impor a sua vontade através da lei da lâmina.

Mas o código tem de ser imposto, cumprido. Quem o ultrapassa será executado.

Nagisa Oshima coloca o desejo reprimido nessa equação difícil de um  modo fundamental, trazendo o espectador até à cena final, esteticamente dramática, quase onírica, onde uma pequena cerejeira em flor é violentamente decapitada. A poesia é assim.

jef, junho 2018

«Tabu: Gohatto» de Nagisa Oshima. Com Takeshi Kitano, Ryuhei Matsuda, Shinji Takeda, Tadanobu Asano, Yoichi Sai. Música: Ryuichi Sakamoto. Japão, 1999, Cores, 100 min.

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