segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sobre o filme «O Quarto Azul» de Mathieu Amalric, 2014


















George Simenon tem essa característica distintiva de deixar a dúvida no romance policial. Não tanto na mão de quem pratica o acto mas muito mais no sistemático existencialismo de que sustém o crime. Apesar do juiz soberano, o crime tem sempre dois lados humanos pelo qual se pode analisar a narrativa.

Mathieu Amalric não consegue fazer dois filmes iguais e agrada-lhe sobremaneira colocar sobre o espectador a questão da culpa e da sua determinação. Ao longo do inquérito policial e da análise judiciária, os constantes flash-backs (ou analepses, como o nosso amigo Mário de Carvalho gostaria de referir) vêm dar a tonalidade da paixão entre Julien Gahyde (Mathieu Amalric) e Esther Despierre (Stéphanie Cléau). Uma paixão escondida num lugar ermo e restrito onde será difícil esconder alguma coisa. Uma paixão, principalmente.

Tão ao gosto de Simenon, Mathieu Amalric consegue realizar um filme policial onde o amor, o rancor, a aproximação e a fuga, são veladas pela luz azul, que tanto tem de frio calculismo como de terno aconchego. Uma luz azul que as partituras de Grégoire Hetzel ou Bach deixam a marca angustiante, quase nostálgica, dos amantes unidos na separação. Definitiva.

jef, junho 2018

«O Quarto Azul» (La Chambre Bleue) de Mathieu Amalric. Com Mathieu Amalric, Léa Drucker, Stéphanie Cléau, Laurent Poitrenaux, Serge Bozon. Segundo o romance de George Simenon. Produção: Paulo Branco: Música: J.S.Bach / Grégoire Hetzel. França, 2014, Cores, 76 min.

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