domingo, 30 de dezembro de 2018

Sobre o filme «Girl: O Sonho de Lara» de Lukas Dhont, 2018














Digamos que «Girl» é um filme improvável.

É também um filme discreto que foge aos clichés que se esperariam ao abordar um dos temas da moda, ditos, sabe-se lá por que razão, fracturantes. Ainda por cima, sobre a realidade biográfica de um jovem.
Assim, «Girl» é um filme também sério, sensível, bipolar.

Bipolar, pois Lara deseja tanto ser rapariga como ser bailarina clássica, apesar das dificuldades da transformação hormonal, apesar das características morfológicas do corpo de rapaz. O realizador Lukas Dhont dá muito mais forma ao esforço exigido a uma jovem bailarina do que à preparação médica, colocando em primeiro lugar a tenacidade superior de uma vontade e o enquadramento amoroso de uma família exemplar.

Sério, pois apesar de ser um filme político sobre a aceitação social do esforço de transformação de um adolescente, centra-se no tónus muscular exigível, dando corpo à angústia tão desesperada quanto melancólica pela ansiada mudança. Os reais suor, sangue e lágrimas de Lara nos ensaios (passo eu o cliché) são ultrapassados pela extraordinária sensibilidade emocional do actor Victor Polster, explorada sem nunca sentirmos a câmara tocar a fronteira fácil do voyeurismo mórbido. Sim, Victor Polster merece um prémio!

«Girl», nessa dualidade da transformação de um corpo pela violência do bailado e pela violência sexual que a adolescência sempre obriga, concluído com um unhappy–happy end, é acima de tudo um filme de um novo e terno “realismo”.

jef, dezembro 2018
                                       
«Girl: O Sonho de Lara» (Girl) de Lukas Dhont. Com Victor Polster, Arieh Worthalter, Oliver Bodart, Katelijne Damen e Tijmen Govaerts. Argumento: Angelo Tijssens. Holanda / Bélgica, 2018, Cores, 109 min.

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