segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Sobre o filme «Cães Danados» de Quentin Tarantino, 1992











Um dos filmes onde os litros de sangue são transformados em pura ciência intuitiva do drama e da comédia. Sem aquele sangue nada fazia ali sentido. Contudo e com tanto sangue, este filme é uma lição de narrativa e de movimento em palco. Pode começar teoricamente sobre a intrínseca substância de «Like a Virgin» de Madonna mas termina com a subtil fuga de Mr. Pink (Steve Buscemi) – sim, esse a quem saiu por azar tal estigma como nome de guerra –, de mala aviada com o substancial e sangrento fruto do roubo.

Os restantes estão derretidos numa poça de líquido vermelho. Todos foram enganados, traídos, ou apanharam uma bala que não foi de raspão. Sofreram a desilusão dos infiltrados e da denúncia, a resistência vã da lealdade ou a fúria sádica do prazer recalcado.

Uma verdadeira lição de composição cénica e do uso da analepse cinematográfica. Aqui não há medo do horror ou do humor. Apenas cinema, um resumo entre Shakespeare ou Kurozawa, John Ford ou Nicholas Ray.

Um dos melhores filmes encarnados do mundo.  

jef, janeiro 2019
                                                                      
«Cães Danados» (Reservoir Dogs) de Quentin Tarantino. Com Michael Madsen (Mr. Blonde), Edward Bunker (Mr. Blue), Quentin Tarantino (Mr. Brown), Tim Roth (Mr. Orange), Steve Buscemi (Mr. Pink), Harvey Keitel (Mr. White), Lawrence Tierney (Joe Cabot), Chris Penn (Eddie Cabot), Kirk Baltz, Randy Brooks, Steven Wright. EUA, 1992, Cores, 99 min.

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