sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sobre o filme «Scarface, O Homem da Cicatriz» de Howard Hawks, 1932





















Sem dúvida, aqui está o génio de Howard Hawks.
Não existe filme onde se matam tantos em tão pouco tempo, onde as mulheres se vestem tão bem, onde a elegância dos homens está sublinhada no modo como desviam a aba do chapéu, como riscam um fósforo, como atiram a moeda ao ar com displicência e provocação, como pegam num cigarro ou numa metralhadora, dessas, de estilo e tambor circular.
Sobretudo a arte do realizador está no toque inigualável feito de humor desbragado e sobriedade estética. Nessa longa cena inicial que termina na primeira morte do filme, a de Louie Costillo (Harry J. Vejar), pelo revólver de uma sombra fugaz e pelo mistério de um assobio – o já sintomático assobio de Tony Camonte ‘Scarface’, um Paul Muni assassino gabarola, sortudo, apaixonado e divertido.
Estamos na época da Lei Seca e Al Capone já cumpria pena por evasão fiscal e não pela morte de mais de 400 cidadãos. Estamos na época em que o expressionismo alemão filmava o olhar das mulheres em plano grande, com terror, sedução e longas pestanas. Estamos no centro de um enorme filme de Howard Hawks que faz do riscar do fósforo um acto de máxima provocação, quando é feito na estrela do xerife ou quando oferecido a Poppy (Karen Morley), futura amante, contra a chama do isqueiro do patrão e rival, Johnny Lovo (Osgood Perkins).
Filme inicial por transformar a maior comédia sangrenta, com pouco sangue e muitas sombras, numa tragédia quase grega com epílogo operático quando os dois irmãos Tony e Cesca (Ann Dvorak) se declaram um ao outro, provando o amor pelo manejar das armas.
Tudo neste filme é estudado para nos transmitir o efeito teatral, artificial, para ampliar o deslumbramento e conhecermos a verdade que está contida na arte do verdadeiro cinema.

jef, janeiro 2019
                                                       
«Scarface, O Homem da Cicatriz» (Scarface, Shame of A Nation) de Howard Hawks. Com Paul Muni, Ann Dvorak, Karen Morley, Osgood Perkins, Boris Karloff, C. Henry Gordon, George Raft, Purnell Pratt, Vince Barnett, Inez Palange, Harry J. Vejar, Edwin Maxwell, Tully Marshall, Henry Armetta, Maurice Black, Bert Starkey, Paul Fix, Hank Mann, Charles Sullivan, Harry Tenbrook, John Lee Mahin, Howard Hawks, Dennis O’Keefe. Música: Adolph Tandler, Gustav Arnhelim. Fotografia: Lee Garmes, L. William O’Connell. 1932, EUA, P/B, 86 min.

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