sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Sobre a exposição «Lisboa Clichê» de Daniel Blaufuks. Museu de Lisboa, Palácio Pimenta, Pavilhão Preto, Lisboa, Fevereiro 2022.







«São fotografias tiradas em Lisboa entre o final da década de 1980 e o início dos anos 90. Das mais de 300 imagens publicadas em livro pela Tinta-da-china foram selecionadas cerca de 80.»

Aprendi com Daniel Blaufuks, na exposição «Léxico», em Vila Franca de Xira (Outubro, 2016) e, mais tarde, no livro «Não Pai» (Tinta da China, 2019) que o passado ou os seus estilhaços ou sombras, ficam de certa forma cristalizados dentro de nós, misturando os respectivos ecos com o que o espaço exterior nos vai impressionando; mas, igualmente, criando para o espaço que nos rodeia um vocabulário através do qual agora o justificamos. Contudo, com o tempo, esse vocabulário, esse léxico muda constantemente, assim como a cidade. Porém, tais ecos e estilhaços, as sombras do léxico ou da cidade, dentro de nós, revoltam-se e resistem à mudança. A esse espaço conservador muito íntimo da nossa visão do exterior, os dicionários dão o nome de Nostalgia.

A exposição utiliza a palavra, como o autor também explica, que anteriormente era dada à fotografia: “clichê”, num uso duplicado e irónico do vocábulo, quase corruptela etimológica.

São oitenta retratos de rostos ou ruas, imagens clichês de um passado público que ficou vincado também nas paredes de uma cidade inexistente. A cidade pode já não existir mas elas, as sombras e os ecos, as fotografias existem na realidade, presentes, nas paredes reais do museu. Também no véu concreto da nossa nostalgia.


jef, fevereiro 2022

 


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