quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Sobre o filme «A Pior Pessoa do Mundo» de Joachim Trier, 2021







Um filme que é uma tragédia que, a começar pelo título, quer ser tomada por comédia, dividida em mais de uma dezena de capítulos, um prólogo e um epílogo. A música, os decores, a leveza dos sorrisos, o rigor programático e pragmático das diversas cenas encadeadas quase que nos levam a crer que estamos numa daquelas visões woodyallenianas onde se desvenda a realidade através da sua caricatura ou da sua redenção. E Julie, que não será a pior pessoa do mundo, representa alguém (ou uma geração) com talento que vai adiando a verdadeira conclusão dos dias com receio da escolha final. Julie é uma espécie de Sören Kierkegaard procrastinadora que acabará sempre por não usufruir da resistência que a desilusão do erro ou a frustração do falhanço fornecem à vida corrente.

Julie é talentosa, bonita, jovial e alegre, mas desiste! Nos estudos, na profissão, nos amores.

Julie é maravilhosamente interpretada pela actriz Renate Reinsve que ocupa todo o ecrã e nos leva a crer, de modo encantado, que aquela é uma bela história iniciática de uma geração libertária e libertadora. Porém, não é de todo. E é nesse ponto que o filme se compromete, melodramaticamente, ao fazer confluir toda a série de desgraças sobre o belo sorriso (e as belas lágrimas) de Julie, a conquistadora, a sofredora.

Pois nem Julie é a pior das pessoas, antes pelo contrário, nem a sua geração alguma vez será rasca!


jef, fevereiro 2022

«A Pior Pessoa do Mundo» (The Worst Person in the World / Verdens Verste Menneske) de Joachim Trier. Com Renate Reinsve, Anders Danielsen Lie, Maria Grazia Di Meo, Herbert Nordrum, Mia McGovern Zaini, Hans Olav Brenner, Nataniel Nordnes, Deniz Kaya, Vidar Sandem, Torgny Amdam, Thea Stabell, Rebekka Jynge. Argumento: Joachim Trier e Eskil Vogt. Produção: Andrea Berentsen Ottmar Fotografia: Kasper Tuxen. Música: Ola Fløttum. Noruega, 2021, Cores, 127 min.

 

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