Um
filme que é uma tragédia que, a começar pelo título, quer ser tomada por
comédia, dividida em mais de uma dezena de capítulos, um prólogo e um epílogo.
A música, os decores, a leveza dos sorrisos, o rigor programático e pragmático
das diversas cenas encadeadas quase que nos levam a crer que estamos numa
daquelas visões woodyallenianas onde se desvenda a realidade através da sua
caricatura ou da sua redenção. E Julie, que não será a pior pessoa do mundo,
representa alguém (ou uma geração) com talento que vai adiando a verdadeira
conclusão dos dias com receio da escolha final. Julie é uma espécie
de Sören Kierkegaard procrastinadora que acabará sempre por não usufruir da
resistência que a desilusão do erro ou a frustração do falhanço fornecem à vida
corrente.
Julie
é talentosa, bonita, jovial e alegre, mas desiste! Nos estudos, na profissão,
nos amores.
Julie
é maravilhosamente interpretada pela actriz Renate Reinsve que ocupa todo o ecrã
e nos leva a crer, de modo encantado, que aquela é uma bela história iniciática
de uma geração libertária e libertadora. Porém, não é de todo. E é nesse ponto
que o filme se compromete, melodramaticamente, ao fazer confluir toda a série de desgraças sobre o belo
sorriso (e as belas lágrimas) de Julie, a conquistadora, a sofredora.
Pois
nem Julie é a pior das pessoas, antes pelo contrário, nem a sua geração alguma vez será rasca!
jef,
fevereiro 2022
«A
Pior Pessoa do Mundo» (The Worst Person in the World / Verdens Verste Menneske)
de Joachim Trier. Com Renate Reinsve, Anders Danielsen Lie, Maria Grazia Di Meo,
Herbert Nordrum, Mia McGovern Zaini, Hans Olav Brenner, Nataniel Nordnes, Deniz
Kaya, Vidar Sandem, Torgny Amdam, Thea Stabell, Rebekka Jynge. Argumento: Joachim
Trier e Eskil Vogt. Produção: Andrea Berentsen Ottmar Fotografia: Kasper Tuxen.
Música: Ola Fløttum. Noruega, 2021, Cores, 127 min.
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