É um interessantíssimo
exercício de cinema sobre a adaptação ficcional de um conjunto de objectos
provenientes dos arquivos e das recordações das duas realizadoras. Ou seja, a
partir de gravações áudio e dos cadernos-diários escritos entre 1982 e 1988 por
Joana Hadjithomas e das fotografias de Joana Hadjithomas, apresenta-se a
história da avó Téta (Clémence Sabbagh), da mãe Maia (Rim Turki, em adulta, e Manal
Issa, em adolescente) e da neta Alex (Paloma Vauthier), esta última que só conhece
a sua vida em Montréal sem suspeitar o que Téta e Maia escondem no passado
quando fugiram para o Canadá durante a guerra fratricida do Líbano, com Beirute
a ferro e fogo.
Mas eis que chega, nas vésperas
do Natal, uma caixa cheia de mais memórias que Alex não resiste a vasculhar às
escondidas da mãe. E daí, dessa colagem de objectos, surge a primeira parte do
filme com a crescente revolta de Alex pelo silêncio da mãe e da avó sobre o seu
próprio país. Até que a revolta explode e o reencontro se dá. A partir desse
momento, o filme volta ao passado mas já em filmagem sequencial, sem o mundo patchwork.
O que é notável neste
melodrama é o facto de contar uma história muito complicada mas de um modo
muito simples, a dois tempos e a dois cenários, sem cair na lamechice, sem dar
um tom de autocomiseração, sustentada por actrizes maravilhosas. O filme até permite que uma história terrível e
verdadeira se transforme, de certa forma, num filme popular e com um princípio
(ou um final) redentor.
Que todos os filmes sobre os traumas civis de guerras ignóbeis assim fossem. Com uma lágrima e um sorriso por happy end.
jef, fevereiro 2022
«Caixa de Memórias» (Memory
Box) de
Joana Hadjithomas e Khalil Joreige. Com Rim Turki, Manal Issa, Paloma Vauthier,
Clémence Sabbagh, Hassan Akil, Rabih Mroue, . Argumento: Gaëlle Macé, Joana
Hadjithomas e Khalil Joreige. Produção: Luc Déry, Christian Eid.
Fotografia: Josée Deshaies. Música: Charbel Haber e Radwan Moumneh. França,
Líbano, Canadá, 2021, Cores, 100 min.
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