Não fosse a pragmática e
eficaz realização, a primeira saliente-se, de Maggie Gyllenhaal, que não nos
deixa um minuto sossegados no interior do mal-estar extremo de Leda, a
professora de literatura comparada que decide ir passar férias sozinha na ilha
grega de Spetses.
Não fossem ainda as
impressionantes interpretações de Olivia Colman (Leda, na actualidade) e de
Jessie Buckley (Leda, a jovem mãe de duas meninas e estudante universitária);
para além da beleza de Dakota Johnson (Nina, a mãe da menina que se perde na
praia e a quem roubam a boneca preferida) e de Dagmara Dominczyk (Callie, uma
familiar policial e desconfiada); e as interpretações dos saudosos Ed Harris
(Lyle, o velho americano que entrega as casas aos turistas) e Peter Sarsgaard
(o professor Hardy, por quem a jovem Leda se apaixona e por quem vai abandonar
as filhas), e o filme resumir-se-ia a um monte de actos falhados e maldades
inconsequentes que Sigmund Freud tinha dificuldade em explicar.
Ficaria o espectador
apenas centrado num chorrilho de desagradáveis situações sobre a recusa
maternal, a universal suspeita sobre o próximo, o ressabiamento por um passado
mal resolvido e o princípio da maldade como modo de sublimar o trauma.
Ou talvez a minha memória
cinematográfica ainda permaneça no enlevo desse poço sem fundo de ternura (e
onde a recusa paternal é o centro de todo o afecto) que dá pelo nome de «Lua de
Papel» (Peter Bogdanovich, 1973).
Aviso final: E nunca
tirem férias nas praias gregas de Spetses!
jef, fevereiro 2022
«A Filha Perdida» (The
Lost Daughter) de Maggie Gyllenhaal. Com Olivia Colman, Dakota Johnson, Jessie
Buckley, Ed Harris, Peter Sarsgaard, Dagmara Dominczyk, Paul Mescal, Robyn
Elwell, Ellie Mae Blake, Jack Farthing. Argumento: Maggie Gyllenhaal baseado no
romance de Elena Ferrante. Produção: Charles Dorfman, Olivia Colman, David
Gilbery, Maggie Gyllenhaal. Fotografia: Hélène Louvart. Música: Dickon
Hinchliffe. EUA, Grã-Bretanha, Grécia, 2021, Cores, 121 min.
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