sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Sobre o livro «O Caminho do Burro» de Paulo Moreiras. Visgarolho, 2021










Tal como a capa bem nos diz, aqui se reúnem contos, 13, escritos entre 1996 e 2017, onde Paulo Moreiras vai escrevendo em jeito de laboratório de ensaio narrativo ou por simples prazer pela história breve. Por isso, não se pense encontrar aqui algum burro perdido, …«Platero e Eu», diria Juan Ramón Jiménez.

Aqui o burro não é burro nem teimoso, como explica o autor no prólogo. O inteligente animal seguia na frente dos homens, cientes da sua habilidade de caminheiro, pois certamente iria encontrar o melhor dos caminhos para ser marcado.

Do mesmo modo, Paulo Moreiras durante duas décadas trilhou esse modo peculiar de escrever pequenas narrativas para ler e sossegar à noite, entre um universo rural que se enraíza numa memória popular e erudita muito próprias; a fantasia que os antigos ermos florestais produzia nos sonhos e pesadelos dos viventes; os doces que nos conventos ancestrais saíam do tédio religioso; a atmosfera de um mundo urbano que, também ele, talvez já tenha desaparecido mas que deixou marca na tradição literária portuguesa.

Principalmente, um gosto próprio de lançar sobre a actual leitura o prazer das palavras caídas em desuso, dos regionalismos sonoramente atraentes, da vivacidade de nos levar até personagens com nomes que parecem vir de um outro mundo.

A leitura destas narrativas faz-me recordar tempos idos mas presentes, como ainda me faz homenagear «As Lendas e Narrativas» de Alexandre Herculano, «Os Contos Populares Portugueses» de Adolfo Coelho, os «Contos para os Nossos Filhos» de Maria Amália Vaz de Carvalho e Gonçalves Crespo, «Beco do Alegrete» de Armando Ferreira ou os «Casos do Beco das Sardinheiras» de Mário de Carvalho.

 

Os contos fazem uma bela história na literatura portuguesa.

 

jef, fevereiro 2022

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