sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Sobre o filme «O Monte dos Vendavais» de Luis Buñuel, 1953







Este filme é maravilhosamente exagerado, exacerbado, exorbitante. Deseja seguir os passos do romance de Emily Brontë mas, acima de tudo, segue o génio simbólico de Luis Buñuel.

Entramos, assim, de chofre na casa e na vida de Catalina (Irasema Dilián) e do seu marido, Eduardo (Ernesto Alonso), e da cunhada Isabel (Lídia Prado). A primeira mata aves a tiro para não as fazer sofrer. O segundo espeta alfinetes em borboletas vivas sob o olhar horrorizado da irmã. Existe um ódio latente e uma paixão intrínseca e letal em toda a cena que perdurará e adensar-se-á ao longo de todo o filme. A morte anunciada é o primeiro e último símbolo romântico (tal como era no «Conde Drácula» de Bram Stoker ou em «Madame Bovary» de Flaubert!) A matança do porco, as rãs assadas vivas, o insecto devorado pela aranha (que se pode esmagar com um pé, como diz o alcoolizado Ricardo – Luis Aceves Castañeda). Ricardo, o irmão de Catalina cuja quinta está hipotecada por dívidas de jogo a Alejandro (Jorge Mistral), esse regressado das trevas, o odiado e eterno amante de Catalina. A casa onde estes vivem é uma cripta escura, com escadarias e sombras tão fúnebres como as do mausoléu profanado por Alejandro quando, no final e ferido de morte, tenta unir-se ao cadáver de Catalina. Tal como a paisagem árida onde o triângulo Catalina-Alejandro-Isabel se movimenta. Tal como os tenebrosos ramos das árvores ou as raízes onde ficaram enterrados a faca, a corda e a lanterna dos sonhos da sua juventude…

A paixão assolapada, perversa, trágica, enlouquecida, que se auto-mutila, se impede consumar, é o tema de três dos quatro filmes “mexicanos” creditados por Buñuel no ano de 1953. É impossível escolher entre eles mas «Monte dos Vendavais» é teatro com o grau máximo de pureza e de beleza!

jef, agosto 2019

«O Monte dos Vendavais» (Abismos de Pasión / Cumbres Borrascosas) de Luis Buñuel. Com Jorge Mistral, Irasema Dilián, Lídia Prado, Ernesto Alonso, Luis Aceves Castañeda, Francisco Reiguera, Hortensia Santoveña, Jaime González. Argumento: Luis Buñuel, Julio Alejandro e Dino Maiuri baseado no romance Wuthering Heights de Emily Brontë. Fotografia: Agustín Jiménez Música: Raúl Lavista sobre temas da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner. Produção: Producciones Tepeyac / Oscar Dancigers e Abelardo Rodríguez. 1953, México, P/B, 91 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário