quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Sobre o filme «Um Cão Andaluz» de Luis Buñuel, 1929













Ou me engano muito ou o primeiro filme de Luis Buñuel, «Um Cão Andaluz», é o famosíssimo, o mais revisto, mais discutido, mais estranhado, de toda a sua carreira. Um dos mais importantes filmes da História do Cinema. Tem 18 minutos e não se explica, aliás como pretendiam os argumentistas, Luis Buñuel e Salvador Dali, quando o escreveram em menos de uma semana, baseado em sonhos recorrentes que iam contando um ao outro. Um filme que o lado racional do córtex jamais explicará. Apenas interpretável pelo outro lado, o lado sensorial, dos sentidos, o nosso lado ‘visível’. Olhado pelo olho impassível que logo nas primeiras imagens-ícone é corrompido e vazado por uma lâmina afiada com esmero. Tocado por uma mão corrompida pelo trabalho incessante das formigas, decepada depois. Mãos que apalpam as mamas de uma mulher que se oferece mas se nega a ser 'corrompida' por um homem-não-homem-sem-boca que arrasta com o esforço dois padres / dois pianos de cauda / dois burros mortos e a sangrar. Nada que uma certa ‘caixa de esmolas’ não possa significar. Nada que não fique apaziguado por um passeio dado à beira-mar pelos amantes. Um happy-end. O superlativo absoluto do surrealismo de «Um Cão Andaluz»!

jef, agosto 2019

«Um Cão Andaluz» (Um Chien Andalou) de Luis Buñuel. Com Pierre Batcheff, Simone Mareuil, Luis Buñuel, Salvador Dali, Xaume Miravitlles, Marval, Fano Messon. Argumento: Luis Buñuel e Salvador Dali. Fotografia: Albert Duverber. Sonorização em 1960 segundo indicação do realizador com fragmentos da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner e tangos argentinos. Restaurado em 1993. Produção: Luis Buñuel. 1929, França, P/B, 18 min.

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