Não
sei se terá sido pelo encantamento dos filmes que tenho visto ultimamente,
todos perfeitos no seu plano estético, moral, afectivo, aproximando-me da visão
miniaturista e ultra-emocional sobre a exigível existência futura – «Ervas
Secas» de Nuri Bilge Ceylan (2023); «Dia Perfeiros» de Wim Wenders (2023); «História
de Um Proprietário Rural» e «Crepúsculo em Tóqui» de Yasujiro Ozu (1947, 1957).
Talvez
por causa de uma overdose de imagens bélicas, ansiosas, agressivas e sangrentas
com que todos nós nos confrontamos minuto a minuto no quotidiano.
Ou
pelo meu ancestral estrabismo que não me permite ver convenientemente a
realidade dos filmes 3D sobre dois óculos sobrepostos, deixando a minha cabeça
hirta para que a enxaqueca não sobreviva.
(E
não deixando de pensar que só os antigos egípcios e os ícones pré
renascentistas viam a realidade apenas a duas dimensões, sendo que a arte
visual contemporânea, cinematográfica ou não, tem sempre em atenção os famosos pontos
de fuga e as linhas de convergência.)
E
apesar do filme ser muito belo nesse absoluto oceano sem fundo da arte de
Anselm Kiefer
que, eu pobre ignorante, desconhecia.
O
filme sobre tal extravagante artista plástico e a sua exorbitante, monumental,
gigantesca obra de arte não me entusiasmou por aí além. O filme, não a obra retratada, pareceu-me em certos momentos um pouco piegas.
Contudo, reconheço que esta geração de artistas alemães (Anselm Kiefer, Joseph Beuys,
Wim Wenders ou Rainer Werner Fassbinder) são absolutamente fundamentais para
ser possível construir algo de belo por cima da absoluta ignomínia do holocausto
e das suas sequelas.
jef,
janeiro 2024
«Anselm - O Som do Tempo» (Anselm - Das Rauschen der Zeit) de Wim Wenders. Com Anselm Kiefer, Daniel Kiefer, Anton Wenders, Ingeborg Bachmann, Joseph Beuys, Paul Celan, Martin Heidegger. Produção: Karsten Brünig. Fotografia: Franz Lustig. Música: Leonard Küßner. Alemanha, 2023, Cores, 92 min.
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