quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Sobre o livro «O Último Sonho» de Pedro Almodóvar, Alfaguara 2023. Tradução de Helena Pitta.


 









Ler este livro é um modo de aprofundar o método de funcionamento artístico e emocional de Pedro Almodóvar. Parece que aqui está tudo e ao mesmo tempo sugere que lhe falta a outra metade. Um cineasta único, um coração movimentado, atormentado. Entre a reflexão do alto dos seus 74 anos, as dores de cabeça, os tormentos, a solidão, as suas dúvidas e as certezas flamejantes da divertida vampe nascida no pós-Franco, a insone estrela de fotonovela porno Patty Diphusa.

São uma dúzia de relatos, entre o conto, a crónica, a reflexão. A educação religiosa, a morte da mãe, a comparação com Andy Warhol, o fascínio por Chavelas Vargas e os contos de estilo – a princesa Joana, a católica, a demente e a adormecida; o vampirizado padre Bendito; o santificado Barrabás; o morrido-nascido Miguel; a vingança de Luís ou o teatro de Tennessee Williams – John Cassavetes visto através de León.

Afinal, Pedro Almodóvar é mesmo aquela criatura que se habituou a contar-nos histórias, tristes e divertidas, tal coloridas quanto musicais. Tal como ele é.

E tão honesto, que nos propõe inicialmente a própria leitura do seus textos e por fim, o próprio escreve «Um Romance Mau», um texto linear e directo à brutal diferença existente entre o romancista, o escritor de guiões e o cineasta.

Pode não ser o melhor livro do mundo mas que nos deixa, uma vez mais, apaixonados pelo carinho das imagens e dos enredos de Pedro Almodóvar, lá isso deixa!


jef, janeiro 2024

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