Ler
este livro é um modo de aprofundar o método de funcionamento artístico e
emocional de Pedro Almodóvar. Parece que aqui está tudo e ao mesmo tempo sugere
que lhe falta a outra metade. Um cineasta único, um coração movimentado, atormentado.
Entre a reflexão do alto dos seus 74 anos, as dores de cabeça, os tormentos, a
solidão, as suas dúvidas e as certezas flamejantes da divertida vampe nascida
no pós-Franco, a insone estrela de fotonovela porno Patty Diphusa.
São
uma dúzia de relatos, entre o conto, a crónica, a reflexão. A educação
religiosa, a morte da mãe, a comparação com Andy Warhol, o fascínio por
Chavelas Vargas e os contos de estilo – a princesa Joana, a católica, a demente
e a adormecida; o vampirizado padre Bendito; o santificado Barrabás; o morrido-nascido
Miguel; a vingança de Luís ou o teatro de Tennessee Williams – John Cassavetes visto
através de León.
Afinal,
Pedro Almodóvar é mesmo aquela criatura que se habituou a contar-nos histórias,
tristes e divertidas, tal coloridas quanto musicais. Tal como ele é.
E
tão honesto, que nos propõe inicialmente a própria leitura do seus textos e por
fim, o próprio escreve «Um Romance Mau», um texto linear e directo à brutal
diferença existente entre o romancista, o escritor de guiões e o cineasta.
Pode
não ser o melhor livro do mundo mas que nos deixa, uma vez mais, apaixonados
pelo carinho das imagens e dos enredos de Pedro Almodóvar, lá isso deixa!
jef,
janeiro 2024
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