segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Sobre o filme «Sirât» de Oliver Laxe, 2025


















Este filme de aventuras é um filme complexo. Um filme musical, também. Avisam no início que “Sirât” significa a ponte entre o bem e o mal, o paraíso e o inferno, tão fino como um fio de cabelo, tão aguçado como uma espada.

A estrada, o deserto, a guerra esperam por nós. E nós, espectadores, não estamos seguros mas seguimos a caravana. Todas as personagens, felizes e infelizes, aventurosas e livres no seu modo de estar longe da sociedade e perto de um soundsystem abstracto onde o tecno e a house são o casulo de devoção-alienação. Nós não fomos convidados. Somos instados a entrar e a segui-los pelo campo minado entre a morte e a esperança, numa sequência alternada, tão diabólica como simbólica de climax e anti-climax. Como se estivéssemos a ler «Fahrenheit 451» mas escrito por um Ray Bradbury sem a sua persistente ironia esperançosa no futuro. Como se víssemos ou ouvíssemos uma marioneta humana a cantar «Le Déserteur» de Boris Vian mas sem a carga de revolta e recusa, mas com a força espiritual da entrega ao sacrifício. Como se lêssemos o conto «As Formigas» desse tal Boris Vian ou «A Auto-Estrada do Sul» de Julio Cortázar. Como se ali espreitasse o abandono de «A Aventura» e «O Deserto Vermelho» (Michelangelo Antonioni,1960, 1964).

Um filme para nos devolver a vontade de ir ao cinema para nos desinquietar e discutir, formar ideais. Um filme de aventuras, musical, de suspense, de terror, de cinemateca. Um filme de futuro.


jef, agosto 2025

«Sirât» de Oliver Laxe. Com Sergi López, Bruno Núñez Arjona, Stefania Gadda, Joshua Henderson, Richard 'Bigui' Bellamy, Tonin Janvier, Jade Oukid, Ahmed Abbou. Argumento: Oliver Laxe e Santiago Fillol. Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar, Domingo Corral, Xavi Font, Oliver Laxe. Fotografia: Mauro Herce. Música: Kangding Ray. Guarda-roupa: Nadia Acimi. Espanha / França / Marrocos, 2025, Cores, 115 min.