quarta-feira, 19 de outubro de 2016

«Ai, que me dói o Poplíteo!»














«Ai, que me dói o Poplíteo!»
gemeu o Luís Miguel, após um agachamento menos ponderado.
Até o melhor dos mestres, o mais forte dos líderes, pode, a dado instante, avaliar de modo inconsequente o movimento muscular quando o pretende levar até ao limite da competição.
Assim gritaram os persas em fuga da peloponésia Maratón.
Assim foi o grito heróico daqueles que atravessavam o Mediterrâneo, temendo-o sem o temer, enfrentando o desgaste das fibras como se entregassem aos deuses a última sílaba da última elegia de Píndaro.
Assim gritou a nereida Tétis ao saber do calcanhar de seu filho, da desgraça por terras de Tróia.
Assim gritou Eneias quando daquela saiu e avistou Roma, ainda por inventar.
Assim fremiu o músculo escavado na diagonal sobre a tíbia quando, em razão menos ponderada, Luís Miguel se agachou perante a fúria de mais um compasso quaternário de Madonna:

« If we took a holiday / Took some time to celebrate / Just one day out of life / It would be, it would be so nice / Holiday Celebrate / Holiday Celebrate».

Logo tremeu o ígneo pelotão,
as cabeças baixas
as vestes em rasgos.
Logo, em coro, todos os ginastas gritaram,
atormentados por tão dramática lesão:
«Ai, que nos dói o Poplíteo!»

jef, outubro 2016

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