quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sobre o livro «O Deserto dos Tártaros» de Dino Buzzati, Cavalo de Ferro 2008


















Dizem que não há muitos temas para a literatura. A Morte e a Guerra, seguramente. A Solidão, se quisermos acertar em 99% da crítica.
Pouco mais.
Enfim, depois temos «A Cidade e as Serras»... Irreverentemente luminoso mas publicado no início do século passado, após a morte do autor.

«O Deserto dos Tártaros» tem o condão de colocar a Morte, a Guerra e a Solidão em pé de igualdade e no interior do labirinto do tempo, condensando a humanidade num átomo apenas:
“O que fizemos com o tempo que nos foi já concedido, o que faremos com o restante, sabendo que o que ficou para trás vai sempre aumentando e o que virá será sempre mais curto?”
E tendo a certeza de que a linha do tempo não é rectilínea, nem sequer curva, é mesmo labiríntica.

O jovem tenente Giovanni Drogo sai de casa da família quando é colocado, numa manhã de Setembro, na Fortaleza Bastiani. Decrépita fortificação castrense esquecida entre a vida influente da cidade e o deserto dos tártaros. Será apenas mais um dia da sua juventude a ser vivido.

Mas a Fortaleza Bastiani é um labirinto estranho, digamos «Escheriano», onde o velho passado vive apaixonado pelo futuro, mas onde muito pouco acontece. Apenas as circunstâncias condicionantes e as escolhas duvidosas podem indicar a saída e a alteração de um «destino».

Este é um livro sobre a capacidade de decidir face ao correr do tempo, de segurar o que não é tangível, de conquistar o imprescindível, de nos aproximarmos da metafísica.

«O Deserto dos Tártaros» é, acima de tudo, um livro sobre a Liberdade. Sobre essa faculdade, quantas vezes existencial, de que Mário de Carvalho nos fala num dos mais assombrosos contos da literatura universal. «A Liberdade de Pátio».

Nota: num livro desta dimensão temporal, geográfica e arquitectónica, a revisão deveria ter sido mais aturada e a tradução mais ponderada.

jef, outubro 2016

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