O improvável não é o impossível. E a realidade nem sempre é
plausível.
A narrativa tem truques, logo o cinema é o universo da astúcia.
Experimente-se olhar para o filme como Metáfora, Elegia,
Apologia, Fábula ou Parábola.
A Bíblia está cheia delas, muitas inverosímeis. Talvez o facto
a transforme num objecto tão especial.
«Boi Neon» parece saído de um conto bíblico onde todos os
passos se conjugam para nos levar a uma síntese moral: «A Resistência pela
Felicidade».
E se o espectador notar incoerências, estranheza,
perplexidades, das duas uma: ou não gosta de ouvir e ver histórias bem contadas
ou esbarra em algum preconceito.
Estrategicamente, este filme sobre pessoas felizes é colocado
num cenário que pode ser julgado «infeliz». O ambiente será «sujo» mas a
fotografia é ímpar e límpida, a ser contemplada fotograma a fotograma. A vasta
paisagem da floresta brasileira é interrompida por ilhas de tecnologia
inoxidável. A «noite americana» é revestida de néons e dejectos de bovinos. O
olhar triste dos animais é captado pela alegria colorida das cuecas fio-dental...
Uma estratégia estética de arriscado equilíbrio, mas equilibrada.
Um filme que pode ser tomado por absurdo. Mas atenção, a
realidade está a transbordar de absurdos e nem sempre tão bonitos como «Boi Neon».
O final feliz é de uma beleza improvável mas felizmente possível.
Como gostamos nós de ouvir histórias incríveis, e belas.
E, já agora, é mesmo necessário resistir para ser-se feliz!
jef, outubro 2016
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