A escrita de Gonçalo M. Tavares organiza as ideias. É sabido.
Dá corpo a essas ideias. Lembra que vêm de algum lugar, de
algum tempo. E que o corpo, o nosso, também não nos chegou por geração
espontânea ou criação. Mas que não resiste sem criatividade. A ela deve ele o
futuro.
A ideia e o corpo não estão sós no mundo.
Aliás, como nós [corpo / ideia] também não estamos sós do
mundo, por mais que, por vezes, isso nos estranhe.
Há sempre um antes, um depois, um acima, um abaixo, um
melhor, um pior, um maior, um menor…
A organização do corpo das ideias segundo o autor demonstra que ela se procede através de catalogação, silogismos, interpretação de
sinais, resolução da linguagem. A do interior de cada um de nós e aquela que serve
para dialogar com os outros.
O diálogo em Gonçalo M. Tavares é essencial. Revela que existe múltiplas organizações. Enfim, um sistema múltiplo e democrático.
O Caderno 36 da sua Biblioteca é composto por dois textos dirigidos
para o teatro, logo ao diálogo. É um veículo da compreensão (entendimento +
integração) e contém dois capítulos: 1. Diálogos; 2. Cidade. Este último, com
19 páginas, dedicado à gestão urbana do silêncio. O diálogo com sinal negativo.
O primeiro, o corpo maior do livro, respeita o discurso
partilhado entre duas corteses, delicadas, cerimoniosas, Excelências. Em palco,
em confronto de palavras, em movimento constante. Com didascálias e tudo o resto.
Nunca o discurso do autor assumiu um ponto tão alto de humor. Um humor brilhantíssimo! Um humor excelentíssimo!
«O Torcicologologista, Excelência» é um livro bonito,
divertido, sensato e absurdo, infantil e adulto! Apetece lê-lo em voz alta,
para os outros. Lê-lo ao serão.
E que família (em corpo e ideia) se
prepare!
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