Sobre
a leitura de «Barco sem Âncora» de José Loureiro Botas, colecção O Livro de
Bolso n.º 44, Portugália Editora 1963.
[Vem
o presente texto a propósito do esquecimento do neo-realismo e de um certo
«desprezo sobranceiro» que a crítica parece derramar sobre os seus autores. Da
série «Neo-Realismo: da Arte e da Razão».]
O
que farão os livros para serem esquecidos?
Quem
ler estes contos dificilmente passará ao lado das alegrias e das dores das
gentes da beira-mar de Vieira de Leiria. Por ventura, o vigor social fará
esquecer o modo hábil, melodramático, operático, com que José Loureiro Botas
arrasta o leitor através da geografia de um povo. Quando escreve: «Fala Zé
Catrau, pescador», o autor devolve o discurso directo à realidade e oferece-lhe
a bela fórmula cronista, tão velha quanto contemporânea. Os diálogos e os
quadros paisagísticos são agilíssimos, as narrativas de comoção romântica e o
conto visivelmente autobiográfico com que encerra o livro, «A Mãe», abre todo o
poder afectivo do autor à profundidade da memória. (A capa é bela e da autoria
de João da Câmara Leme).
Há
livros que não foram feitos para serem esquecidos!
(1)
Como não conhecer José Loureiro Botas?
(2)
Por que continuarão a negar o valor certo ao neo-realismo? Não residirá nele
influência bastante para autores presentes como Mário de Carvalho, Rui Cardoso
Martins, Mia Couto, Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa, David Machado, Valter
Hugo Mãe, Afonso Cruz, Pepeteta, Ana Margarida de Carvalho…?
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