segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sobre o livro «Diários Portugueses» de Curt Meyer-Clason, Documenta, 2013


















Literatura. Acção e liberdade.
Dizem da literatura ser coisa difícil de definir, tantas as formas pelas quais se manifesta. «Diários Portugueses» escritos por Curt Meyer-Clason, documentando a sua passagem como director do Instituto Alemão, em Lisboa, no período de 1969 a 1976, são exemplo dessa liberdade literária. O livro lê-se como uma novela onde são descritas, de modo romanesco, personagens únicas em situações únicas (José Cardoso Pires, Natália Correia, Ruben A., Luandino Vieira, ou Beatriz, a mulher das limpezas). Coloca essas e muitas outras figuras dentro de uma Lisboa cujos cantos, recantos e arredores, identificamos com um prazer quase oitocentista. Transforma o estilo diarista, por princípio intimista, na proposta mundana das crónicas contemporâneas, ou dessas outras antiquíssimas que falavam em novas dinastias e revoluções. Tal como nos anos apaixonados de 1969 a 1976. Conhecer Portugal, a Europa e o Mundo, durante esse período, pela escrita modelada, inventiva, satírica do autor, é igualmente um modo de rever a História de forma muito moderna. Curt Meyer-Clason, através do lema: «não devemos viver do trabalho mas viver no trabalho», revela a paixão com que usou a cultura e a literatura para alterar o modo de encarar os obstáculos. Abriu assim as portas transparentes do agora Goethe-Institut aos autores e aos leitores, contornou a censura e a Pide para devolver à cidade a nova poesia, o novo teatro, a nova narrativa. Chamou a atenção para um Mundo que exigia a metamorfose urgente, deu outra definição para Portugal, «essa esponja onde se morde e se parte os dentes».
Os Diários de Curt Meyer-Clason ampliam a difícil definição de literatura, evidenciando que na sua estrutura crítica habitam indeléveis: a liberdade de pensamento e a acção para a cidadania. 
[Atenção ao posfácio de João Barrento que tão bem traduz este livro.]

jef, agosto 2014

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