Literatura. Acção e liberdade.
Dizem da literatura ser coisa difícil
de definir, tantas as formas pelas quais se manifesta. «Diários Portugueses»
escritos por Curt Meyer-Clason, documentando a sua passagem como director do
Instituto Alemão, em Lisboa, no período de 1969 a 1976, são exemplo dessa liberdade literária. O livro lê-se como uma novela onde são descritas, de modo romanesco, personagens únicas em situações únicas (José
Cardoso Pires, Natália Correia, Ruben A., Luandino Vieira, ou Beatriz, a mulher
das limpezas). Coloca essas e muitas outras figuras dentro de uma Lisboa cujos cantos,
recantos e arredores, identificamos com um prazer quase oitocentista.
Transforma o estilo diarista, por princípio intimista, na proposta mundana das
crónicas contemporâneas, ou dessas outras antiquíssimas que falavam em
novas dinastias e revoluções. Tal como nos anos apaixonados de 1969 a 1976. Conhecer
Portugal, a Europa e o Mundo, durante esse período, pela escrita modelada,
inventiva, satírica do autor, é igualmente um modo de rever a História de forma
muito moderna. Curt Meyer-Clason, através do lema: «não devemos viver do
trabalho mas viver no trabalho», revela a paixão com que usou a cultura e a
literatura para alterar o modo de encarar os obstáculos. Abriu assim as portas transparentes
do agora Goethe-Institut aos autores e aos leitores, contornou a censura e a
Pide para devolver à cidade a nova poesia, o novo teatro, a nova narrativa.
Chamou a atenção para um Mundo que exigia a metamorfose urgente, deu outra
definição para Portugal, «essa esponja onde se morde e se parte os dentes».
Os Diários de Curt Meyer-Clason
ampliam a difícil definição de literatura, evidenciando que na sua estrutura
crítica habitam indeléveis: a liberdade de pensamento e a acção para a cidadania.
[Atenção ao posfácio de João Barrento que tão bem traduz este livro.]
jef, agosto 2014
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