Amor em
valor absoluto. Solidão e transparência.
Há muito
que não se via um filme de «ficção científica» tão claro nos propósitos
teóricos, tão definido na estratégia da imagem, na escolha dos edifícios, das
cores, na gestão dos espaços interiores e exteriores, na concepção do
guarda-roupa, das canções. Uma espécie nova de «comédia romântica» a ser
contemplada através de dois aspectos fundamentais: a solidão e a transparência.
A solidão dos olhares de Theodore (Joaquin Phoenix) e Amy (Amy Adams) face à transparência
da voz de Samantha (Scarlett Johansson). A solidão de um futuro onde as missivas
de amor permanecem escritas por eruditos encartados, a transparência de uma
arquitectura onde a vida e os corpos dos cidadãos não são expostos mas
acarinhados na eterna busca de uma definição interior de amor. Mas é na
definição, pública e única, que o cinema tem oferecido do amor que o título
traduzido excede em significado o original. Esta história de amor não é
virtual, é real, muito real, por isso também pode ser vista como «tragédia»
sobre a solidão e a transparência do dia-a-dia futuro. A transparência do poder
de um argumento sustentado por diálogos em solidão perfeita.
jef, fevereiro
de 2014
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