terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sobre o filme «Os Maias» de João Botelho, 2014


















Filme musical.
O filme que mais recordo de João Botelho é «Tempos Difíceis» (1987), uma alegoria gráfica do romance de Charles Dickens, filmada a preto e branco, com nuvens recortadas, paredes claras, bairros operários e chaminés. Tudo definido como num cenário de papelão, como num palco onde as imagens são personagens e a ficção torna-se o objecto real observado. João Botelho gosta de tocar em objectos reais (os livros) e transformá-los noutros objectos reais (os filmes). Todos ficcionais, como num palco. Então, como aprisionar na esquadria definitiva da imagem filmada o enquadramento ilimitado e simbólico da leitura de um livro? Como pode João Botelho respeitar os símbolos de uma das obras maiores da literatura sem desvirtuar a capacidade dramática ilimitada do cinema? Apenas com o teatro. As imensas telas pintadas por João Queiroz, as cortinas, os brocados, o damasco e o cetim, os pendões decrépitos de uma monarquia em banca rota, o palco a ranger, o Sol eléctrico. O pó e as palavras lidas e ditas. A música essencial a fazer eco nos bastidores.

[1] A minha lista de filmes «musicais» inclui «O Navio» de F.Fellini (1983), «My Fair Lady» de G.Cukor (1964), «Senso» e «O Leopardo» de L.Visconti (1954, 1963), «A Flauta Mágica» de I.Bergman (1975), «Evangelho segundo São Mateus» de P.P.Pasolini (1964).

[2] Parafraseando Ricardo Araújo Pereira, espero que o filme de João Botelho não sirva apenas para resumir o livro de Eça de Queirós dentro das salas de aula portuguesas. Que sirva antes para multiplicar-se por novíssimas leituras.

jef, setembro 2014

Sobre o filme «Os Maias» de João Botelho, 2014. Com Graciano Dias, Maria Flor, João Perry, Pedro Inês, Adriano Luz, Rita Blanco, Filipe Vargas, Ana Moreira, Rui Morrison, Catarina Wallenstein. Portugal, 2014, Cores, 135 min

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