quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Sobre o filme «O Estado das Coisas» de Wim Wenders, 1982


















«Stories only exists in stories (where as life goes by without the need to turn into stor...) Life without stories, it isn’t worth living.» Vamos lendo, vamos ouvindo, por dentro de um filme.
Vivemos em permanência entre o passado terminado e o desejo de um futuro permanentemente fora do nosso alcance. O que fazer com a fina epiderme do presente sem possibilidade de história ou redenção? «O Estado das Coisas» assume a tese, a antítese, a síntese do paradigma.

«Os Sobreviventes» está a ser rodado em Sintra. O Planeta não oferece condições e as famílias caminham à procura de um lugar seguro que as acolha… mas a película termina, o financiamento não aparece, Hollywood distancia-se, os actores e toda a equipa de rodagem ficam suspensos numa Lisboa que aguarda salvação. O realizador Friedrich Munro (Patrick Bauchau) parte em busca de dinheiro e de Gordon (Allen Goorwitz), produtor desaparecido, mas Los Angeles espera também pelo presente. Nada a fazer! Aguardemos também.

«A vida pode ser a cores mas o preto e branco é mais realista!» diz Samuel Fuller, o realizador, aqui Joe, o cameraman. A América quer seduzir a Europa mas já ninguém vê filmes a preto e branco. Já ninguém olha para o passado. Relíquia Macabra, Sublime Expiação. Charles Laughton, Jonh Ford, Douglas Sirk, John Huston…
Mas o sonho do futuro permanece por cumprir (tese) e apenas nos agarraremos às imagens que ficam captadas no passado (antítese). Em «O Estado das Coisas» cada plano é afinal a absoluta síntese estética desse desamparo, dessa multifacetada angústia e declínio.

América, Europa, para que as queremos? 
Haverá ainda algum planeta seguro onde o presente não se derreta inexoravelmente? Quais as palavras inventadas pelos alemães para dizer naufrágio, suspensão, tédio?

jef, janeiro 2017

«O Estado das Coisas» (Der Stand der Dinge / The State of Things) de Wim Wenders. Com Patrick Bauchau, Geoffrey Carey, Isabelle Weingarten, Jeffrey Kime, Rebecca Pauly, Jeffrey Kime, Camilla Mora, Alexandra Auder, Paul Getty III, Viva Auder, Samuel Fuller, Artur Semedo, Francisco Baião, Robert Kramer, Allen Goorwitz, Roger Corman, Martine Getty, Monty Babe, Janet Rasak, Judy Moradian. Música: Jürgen Knieper. Portugal / EUA / Alemanha, 1982, Cores, 121 min.

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