Modo de o
usar
No último
ano, o cinema francês tem dedicado alguma da sua melhor arte a explicar-nos
como será o corpo humano o lugar mais estranho, e mais sugestivo, para habitar.
Quem não o possua que o negue, que evite o início, o fim da infância, a adolescência,
a aventura do futuro. O sexo. Assim o demonstrou Abdellatif Kechiche em «A Vida
de Adèle: Capítulos 1 e 2» ou Alain Guiraudie em «O Desconhecido do Lago». Em
defesa dos anteriores, François Ozon coloca a imagem de uma normalidade, diria
realidade familiar, sobre o que nada tem de normal na viagem experimental de um
corpo. É precisamente esse encontro do afecto, em cada uma das estâncias da
viagem iniciática, que torna a beleza deste filme um estado maior. As lágrimas,
os silêncios, o incómodo, o confronto com o amor da família, a verbalização,
transformarão a descoberta em afinidade ou afastamento definitivo, dará ao
crescimento a consciência do adulto, mas retirar-lhe-á, para sempre, a alegria
da aventura. A necessária revisitação de um quarto ou de um corpo confirma apenas
o que já é passado, e apresenta a ingrata e infinita seriedade do presente. “On
n'est pas sérieux, quand on a dix-sept ans”, assim é citado «Roman» de Arthur
Rimbaud. Assim o cantou Léo Ferré.
jef, abril
2014
«Jovem e Bela» (Jeune et Jolie) de François Ozon. Com Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot,
Fantin Ravat, Johan Leysen, Charlotte Rampling, Nathalie Richard. França, 2013, Cores, 95 min.
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