O mais interessante no realizador Ira Sachs é a gestão
emocional dos personagens em confronto com a realidade económica e social em
que a amizade, o amor e a família, têm de sobreviver.
Dá espaço a Ben (Alfred Molina) e a George (John Lithgow)
quando decidem casar em Manhattan, após 39 anos de relacionamento, na sequência
da aprovação do casamento entre homossexuais mas, logo depois, surge o desemprego
súbito directamente relacionado com a decisão.
Dá espaço à amizade crescente entre
os dois míudos, Jake (Theo Taplitz) e Tony (Michael Barbieri), enquanto os pais
de ambos entram em conflito por causa de um contrato de arrendamento e da
«gentrificação» (vá lá, Google!) da zona residencial de Brooklyn.
Ira Sachs é mestre em fazer apaixonar os espectadores pelas
suas personagens, transmitindo-lhes o carácter profundo da emoção, da
transparência, da bondade.
Ira Sachs pretende mobilizar as consciências fazendo-nos crer
que iremos assistir a uma sadia e suave comédia (ao ritmo e tempo de um Woody
Allen) para, mais à frente, trocar as voltas à gentileza das personagens
expondo-as ao embate das circunstâncias de uma cidade formatada pelas leis
gélidas do mercado. Afinal, estamos perante melodramas, onde ninguém parece
sair ileso.
O amor entre Ben e George é interrompido. A amizade entre
Jake e Tony deve findar. O espectador, emocionalmente desamparado, fica sentado
na cadeira sem saber o que pensar. A realidade é mesmo assim, os afectos tantas vezes
amputados.
Contudo, o cinema não é realidade. Tem de ser mais. Ira Sachs
não faz render o ouro que propõe e devia ceder mais tempo ao que narra, mais
estética à tragédia.
É essa a estética de «Ladrões de Bicicletas» de Vittorio De
Sica (1948), «No Quarto da Vanda» de Pedro Costa (2000) ou «Eu, Daniel Blake» (2016). Tem de haver solução na Arte para a cidade vazia, para a
economia abstracta.
jef, janeiro 2017
«Homenzinhos» (Little Men) de Ira Sachs. Com Greg Kinnear,
Jennifer Ehle, Paulina García, Alfred Molina, Theo Taplitz, Michael Barbieri e
Alfred Molina. Grécia / EUA, 2016, Cores, 85 min.
«O Amor É uma Coisa Estranha» (Love is Strange) de Ira Sachs. John Lithgow, Alfred Molina, Marisa
Tomei. EUA, 2014, Cores, 90 min.
Pois bem.... Realidade é o que vivemos em vida, passe a redundância.E temos a morte, na realidade. Vivêmo-la. A arte mostrará sempre a realidade e ensina/sugere a morte. Na arte não encontraremos solução para a realidade, a não ser que a realidade consiga a solução. Mas pelos vistos, e até hoje......
ResponderEliminarPortanto, "O espectador, emocionalmente desamparado, fica sentado na cadeira sem saber o que pensar." é o que acontece na vida, com a morte.Talvez por isso, queiramos ética e estética, quando a Arte nos mostre o que julgamos saber mas não sabemos, na realidade!!
JF
Exactamente, caríssimo José Fontoura! Por isso a Arte é tão necessária para nos sossegar. até para nos amar. Em vida!
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