Ao ler «Que Importa a
Fúria do Mar» verificamos que, com o passar das páginas, somos pescados para
dentro do romance, seguindo a linha da história, iscados pela minúcia de
milhares de objectos. O Mar, esse, é o mesmo oceano que banha a Marinha Grande
(18 de Janeiro de 1934), Vila Praia de Âncora, o Porto e o Tarrafal, não o dos
«resorts» mas o da «frigideira». O barco é o «Luanda». O peixe é arraia-miúda. Ou
talvez não. Neste livro, percebemos onde, dentro de nós, se finca o anzol que é
o gosto pela leitura. Ficamos também a saber que é no detalhe que reside a
literatura. Tal como a conversa. E esta, tal como a literatura, é feita de
cerejas. Qualquer coisa que deleita, entretém e entretece os fios do
conhecimento / curiosidade. Como uma pinça ou agulha que vai buscando e
cerzindo as memórias, as mnemónicas, os silogismos, na teia do desconhecido.
Resumindo, Ana Margarida de Carvalho é uma contadora de histórias, ideias e
imagens, em linha com José Saramago ou Rui Cardoso Martins – o humor e a
tragédia, o amor e a fúria, o microscópio e a luneta astronómica. Tudo no mesmo
plano. Tudo com barcos, aventura e muitos bichos. Leitura perfeita.
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