«A Força do Sexo Fraco», como diria Ingmar Bergman no filme
de 1964
ou «Belle de Jour», como diria Luis Buñuel no filme de 1967.
Bergman e Buñuel privilegiavam o humor como modo principal do teatro.
Este é um filme que Isabelle Huppert oferece ao realizador Paul
Verhoeven e ao escritor Philippe Djian (o de «Betty Blue», realizado por Jean-Jacques
Beineix em 1986).
Michèle Leblanc é a personagem exacta para colocar Isabelle
Huppert no centro do palco e provocar uma hecatombe moral centrada numa
sociedade hiperactiva e em pré-demência. Não podemos esquecer «A Pianista»
(2001) e «O Tempo do Lobo» (2003) que a actriz “realizou” para Michael Haneke. Isabelle Huppert gosta de interpretar mulheres que
interpretam a vida. Por vezes com sangue e suor, algum esperma, mas com poucas lágrimas.
Será que Michèle Leblanc é vítima ou culpada ao referir ao
vizinho, en passant, após uma
consoada com scrabble, o salvamento
misericordioso de um hamster durante a noite da tragédia?
Tudo aqui está reunido. (E tudo por dizer.) Uma família funcional. Uma vizinhança
acolhedora. Um filho atinado. Uma empresa de futuro com empregados motivados.
Um gato impávido. Um Natal perfeito. Entre o suplício e o desejo. Por fim, que
tal um possível happy-end «fracturante», como hoje os políticos diriam?
Sem querer excitar as papilas da controvérsia e da crítica,
«Ela» é uma das grandes comédias negras destes últimos anos.
jef, novembro 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário