Rüdiger Vogler é Philip Winter, um jornalista que busca
inspiração para uma reportagem sobre a imagem americana. Sem sucesso, vai
tirando polaroids que colecciona em duas caixas. Desiludido, reclama «nunca
ficam como nós vemos!». Este é o ponto de partida. Nada é como nós vemos ou
desejamos. Daí o sonho, daí o medo de o perder.
O sonho que é palavra a representar coisa que não existe. E o
medo que é, acima de tudo, o medo de ter medo.
O actor Rüdiger Vogler está no centro das três obras mais
importantes de Wim Wenders. Três filmes sobre o curso e percurso. «Ao Correr do Tempo»
1976, «Movimento em Falso» 1975, «Alice nas Cidades» 1973. 30 anos após o fim
da Grande Guerra, qual o papel do medo na Alemanha? Qual o papel do sonho
americano?
«Alice nas Cidades» tudo condensa numa sucessão de imagens
cujo desconexo é inocente, ingénuo, amável e ternurento. Profícuo e belo. A
solidão é acompanhada. O sonho afinal conta-se pela noite como história para
adormecer e esquecer. O medo de nos perdermos na cidade, Nova Iorque,
Amesterdão, Wuppertal, afinal desvanece-se com o sorriso impresso numa série de
photomaton, numa viagem de comboio ao longo do rio Ruhr. Numa nota de 100
dólares, misteriosa e benévola, deus ex-machina a repor a confiança e a
continuidade da viagem. Afinal, sem sonho mas também sem medo.
«Alice nas Cidades» um filme contado à flor da pele
cinematográfica.
jef, março 2017