Existe
no realizador uma brilhante fixação nos momentos de lazer (ou de férias),
quando as suas personagens femininas, libertas de obrigações laborais, se
concentram na própria solidão e nos nós que embaraçam o novelo da sua existência,
tornando mais ou menos insuportáveis os becos de saída difícil a que as opções
das suas fortes personalidades as levaram. Se isto acontecer à beira-mar ou à
beira-lago, tanto melhor. A água parece ser o melhor espelho para reflectir os
meandros feitos pelas intrigas destas suas “comédias e provérbios”.
Será mesmo que amiga do meu amigo minha amiga se tornará? O diálogo final entre Blanche
(Emmanuelle Chaulet) e Lea (Sophie Renoir), no qual cada uma pensa que a outra
fala do enamorado, por entre perplexidade e ciúme, demonstra bem a
mestria literária de Éric Rohmer. Afinal, e apesar das duas histórias
coincidirem, elas falam sob uma troca sintomática já ocorrida entre Fabien (Eric
Viellard) e Alexandre (François-Eric Gendron). (Entre o verde e o azul!)
Pura, quase inocente, mas genial troca de casais enraizada na antiga comédia de
costumes francesa tão teatral quanto revolucionária. Marivaux ou Beaumarchais!
jef,
outubro 2021
«O
Amigo da Minha Amiga» (L'Ami de mon Amie) de Éric Rohmer. Com Emmanuelle
Chaulet, Sophie Renoir, Anne-Laure Meury, Eric Viellard, François-Eric Gendron.
Argumento: Éric Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Bernard
Lutic. Música: Jean-Louis Valéro. França, 1987, Cores, 103 min.