quarta-feira, 21 de março de 2018

Sobre o filme «Que o Diabo Nos Carregue» de Jean-Claude Brisseau, 2018

















Se eu fosse de colocar estrelas nos filmes, daria duas estrelas a este filme de Jean-Claude Brisseau.

A primeira estrela seria pela forma como o realizador, por motivos económicos, usa a própria casa como palco e cenário, deixando os nossos olhos poisar sobre portas e trincos, dvd e livros empilhados, mazelas nas paredes e salas desarrumadamente usadas. Isso é bonito e despudorado. A casa é o filme.

A segunda, será pela desfaçatez de filmar um quarteto amoroso, sem prolegómenos ou explicações. A história de três mulheres que se amam. Camille (Fabienne Babe) encontra um telemóvel com vídeos muito sugestivos, esquecido numa estação de comboios; Clara (Anna Sigalevitch) é a dona da casa onde vive com Camille; e Suzy (Isabelle Prim) aquela que vai buscar o telemóvel a casa de Clara e Camille. Pouco depois,  aparece Fabrice (Fabrice Deville), o namorado enlouquecido de Suzy. No andar de cima, vive um tio que levita e disserta, Tonton (Jean-Christophe Bouvet).

Daria ainda uma terceira estrela pelas cenas de amor entre as três mulheres, talvez as cenas mais credíveis do filme. Mas teria de a retirar pelo fundo cósmico de ‘photoshop-vão-de-escada’ que Camille usa e que deslumbra Suzy.

Reafirmaria a terceira estrela pela falta de vergonha de uma história sem história que termina sem começar, cuja lógica se perde na incompreensão do quotidiano a tocar o limite da moral burguesa, e que, em termos  me fez lembrar alguns filmes de Luis Buñuel e de João César Monteiro. Mas de novo teria de a retirar pela linha de diálogos-monólogos que sugerem quase nada.

Restam, no total, as iniciais duas estrelinhas sublinhadas pelo sorriso que me acompanhou durante toda esta comédia ‘classe D’.

jef, fevereiro 2018
                                                                  
«Que o Diabo Nos Carregue» (Que le Diable Nous Emporte) de Jean-Claude Brisseau. Com Fabienne Babe, Isabelle Prim, Anna Sigalevitch, Fabrice Deville e Jean-Christophe Bouvet. França, 2018, Cores, 98 min.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Sobre o disco «Folclore» de Cremilda Medina, Move 2017
















Cremilda Medina, no seu álbum de estreia «Folclore», sofre de uma contradição inevitável. Na sua voz timbrada, livre e aberta, na sua vocação cançonetista, tenta fugir a sete pés da interioridade nostálgica da morna ou da tristeza sem fundo do fado. Contudo, ela é cabo-verdiana e tem de levar aos ombros a tradição de um dos países do mundo mais asinhos em termos musicais. Então, como fazer? Talvez seguir um modo muito brasileiro de colocar a tristeza no centro da própria alegria. O samba consegue-o naturalmente, geneticamente, sem complexos. Ela sabe isso e não teme acompanhá-lo.

Cremilda Medina adora cantar e sabe que é necessário dançar com o coração. Em algumas canções acelera o ritmo, noutras adopta, de corpo e alma, os arranjos orquestrais de Kim Alves para invadir o salão de baile em dias de Carnaval. Ali fica o samba, a coladera e até a morna. Só no fado «Sou Crioula» (José Eduardo Agualusa / Ricardo Cruz), e que bem que ela o copia, se rende ao tom lento da saudade. Nas restantes cantigas, é na pista de dança meio-sinfónica, meio-sem-tempo, que ela as situa. Não esquece Morgadinho, Paulinho Vieira, Manuel d’Novas, mas a eles junta Ti Goi, Jon Luz e, claro, Kim Alves.

E, assim, Cremilda Medina vai resolvendo a música eterna e o futuro contraditório com a alegria da sua juventude e a clareza de uma voz que une mares e continentes.

jef, março 2018

quarta-feira, 14 de março de 2018

Gota










Gota

Uma gota nua precipita-se
No laço vertical de uma queda
Vai mais longe, tenta, quase alcança
O fio gelado desta fonte.

É a abstracção que se fixa
No plano da sua água fria
Que vítrea e horizontal espelha
A ideia cativa do meu olhar.

Fibra desejo que avança
Ausente do laço gelado que não chega
Tenta mais, vem, quase oferece
O abraço que o Inverno no início prometeu.

jef, março 2018

Sobre o filme «A Vida de Boémia» de Aki Kaurismäki, 1992
















Este filme é magnífico.
Representa o espírito de liberdade criativa, fuga ao comprometimento estético vigente e respeito pelo eterno modo dramático. Assim é o cinema de Aki Kaurismäki.
Acima de tudo é um filme sobre a génese do amor e do cinema.
Aki Kaurismäki interpreta a arte cinematográfica como modo de subscrever o acto vital, esse modo romântico, apenas dele, que faz da tragédia uma comédia interpretada por entes bondosos.
Aqui temos Rodolfo, o pintor (Matti Pellonpää), Marcel Marx, o escritor (André Wilms), Schaunard, o músico vanguardista (Kari Väänänen), Mimi (Evelyne Didi), Musette (Christine Murillo) e Baudelaire (Laika), o cão poeta, apaziguador da dor e da ausência, companhia de um grupo de artistas pobres e pouco reconhecidos, mas que constroem a sua sociedade em torno da Arte e da Amizade sem limites. No final, Laika, em corrida em direcção ao negro, duplica-se. Um sinal benfazejo, assim assumo.
As cenas e as personagens o realizador vai buscar a «Cenas da Vida de Boémia» de Henry Murger, um escritor que não é lido mas ouvido pelas pautas de Puccini.
Este é um filme que me lembra por vezes Wim Wenders ou Jim Jarmusch, outras vezes Charlie Chaplin ou Jacques Tati.
Um filme magnífico a transbordar de humor, tragédia, teatro e ternura.

jef, março 2018
                                                                 
«A Vida de Boémia» (La Vie de Bohème) de Aki Kaurismäki. Com Matti Pellonpää, Evelyne Didi, André Wilms, Kari Väänänen, Christine Murillo, Jean-Pierre Léaud, Laika, Carlos Salgado, Alexis Nitzer, Sylvie Van Den Elsen, Gilles Charmant, Dominique Marcas, Samuel Fuller, Jean-Paul Wenzel, Louis Malle. Fotografia: Timo Salminen. França / Itália / Suécia / Finlândia, 1992, P/B, 98 min.

domingo, 11 de março de 2018

Sobre o disco «Landfall» de Laurie Anderson & Kronos Quartet, Nonesuch / Warner, 2018

















Talvez Laurie Anderson me tenha estado a falar da morte. Sempre. Desde «Walking and Falling» (Big Science, 1982) até «The Beginning of Memory» (Homeland, 2010) ou em «Heart of a Dog» (2015).

«And I looked at them floating there in the shiny dark water, dissolving.
All the things I had carefully saved all my life becoming nothing but junk.
All I thought how beautiful how magic and how catastrophic.»

Em Outubro de 2012, a tempestade Sandy inundou parte de Manhattan, afogando muitas das memórias, arquivos e projectos que Laurie Anderson coleccionara na sua casa.

«The water rises / and overflows / the city drowns / the full moon / a freak spring tide.»

Em 2013, a tempestade e os sonhos, a voz, o violino, a percussão, os sintetizadores da artista, reuniram-se ao som do Kronos Quartet para idealizar, compor, revisitar e apresentar «Lanfall». Diria que é uma longuíssima jornada, bela e melancólica, sobre a partida e a perda, a queda e o ver partir.

Como reter na memória o inexorável se o sonho é como uma falácia para que o subconsciente guarde o que não existe mais, para nos manter alegres dentro da mentira onírica?

«Don’t you hate it when people tell you their dreams? (…)
«Please don’t tell me your dream!»

Nunca se sabe bem qual o lado do meu sonho que Laurie Anderson me está a tentar desvendar, porque sempre que a oiço contar uma história sobre a Morte não consigo deixar de pensar que é uma história calma e nostálgica que eu já assisti bem no fundo do meu corpo. Laurie Anderson revela para pacificar e conduz-nos pelo percurso algo romântico da aceitação.

«You know the reason I really love the stars? It’s that we cannot hurt them.»

jef, março 2018

Sobre o filme «Lady Bird» de Greta Gerwig, 2017

















Este é um filme rapidíssimo sobre a iniciação de uma adolescente que deseja outra vida; não deseja a escola religiosa onde está; que ama os pais mas não a prisão familiar que estes impõem; que reconhece o esforço financeiro que a vida exige mas revolta-se contra a falta de dinheiro. Deseja o amor e o teatro mas os namorados e as peças não a satisfazem. Christine McPherson (Saoirse Ronan) pede que a chamem pelo seu nome: Lady Bird! Acima de tudo, deseja mais do que tudo sair da provinciana cidade de Sacramento e chegar à cosmopolita cidade de Nova Iorque. Assim será!

«Lady Bird» é uma comédia de diálogos estilizados que fazem sublinhar as dores de um crescimento que, por vezes, é demasiado trágico e veloz. O mundo parece ficar do lado de fora, enquanto Lady Bird fica «do lado errado dos carris».

«Lady Bird» é, antes, uma comédia sobre a perspectiva moral americana dos filmes de adolescência, tantas vezes copiados, tantas vezes plagiados. Greta Gerwig, a realizadora novata, tem estilo e vocação e ritmo de montagem, contudo, deixa a actriz Saoirse Ronan em cena sem protecção, sem tempo para se dar à câmara, sem tempo para que o espectador possa construir-lhe um perfil, um futuro. E que bela actriz Saoirse Ronan é.

Verdade seja dita. Greta Gerwig concede aos pais o espaço que não dá a Lady Bird. Laurie Metcalf (Marion McPherson) e Tracy Letts (Larry McPherson) ficam com a parte de leão e o mote substantivo do filme, pelo meio de um certo exagero de gags, mudança de cena e diálogos a lembrar a ‘stand-up comedy’.

jef, fevereiro 2018
                                                                 
«Lady Bird» de Greta Gerwig, Com Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet, Beanie Feldstein, Lois Smith, Stephen Henderson, Odeya Rush, Jordan Rodrigues. EUA, 2017, Cores, 94 min.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Umbilical










No sentido do Mar inscreve-se
a sua própria ausência.
Dito de modo mais prático, a sua necessidade,
a sua falta.
Um véu ténue e paradoxal,
uma muralha bruta,
que sem o dizer vem declarar
aristocraticamente
tudo aquilo que desapareceu.
A maré vaza,
a onda a recuar,
a imensidade profunda,
a altura sem fim,
do que não é possível reaver
jamais iremos rever
não mais tocaremos.

[A mão adormecida, a curva do pescoço, o olhar na desculpa,
o suspiro de impaciência.]

É o imenso e trágico
movimento da água
feito somente para se ausentar,
em definitivo.
Imenso e trágico, repito.
O vácuo universal, por mínimo,
a diluir-se no abismo.
Tentem lançar uma moeda ao fundo do alto mar
e depois recuperá-la.
O jogo caótico de moléculas substituindo incessantemente
o sangue e o sal nas células
em direcção ao fim,
medusa infinita de seres múltiplos que alienam o braço translúcido
na exigência de oferecer novos dias ao futuro.
Passatempo das moléculas
que se transformam
na busca furiosa do esquecimento.
Cnidário translúcido se a luz o recebesse,
esquecido da cor no ácido,
em movimento lânguido,
no escuro salgado,
por quilómetros de altitude marinha.
A vida por um fio
inconsequente e sem termo
como o doce veneno no braço separado da hidra
ou o vazio côncavo do mar em espelho
ou o convexo brilho das ondas
ou o cheiro firme por desaparecido,
invisível, que se afunda na melancolia e na salsugem.
Sabemos que a moeda está lá mas não mais a veremos,
Sabemos do braço da medusa mas não lhe poderemos tocar.

Guardemos então do Mar,
 a memória da âncora,
do cordão mártir que a prendeu,
do que existiu apenas para deixar de existir,
para partir,
para deixar partir,
para nos deixar partir
porque assim foi concebido
para fazer desaparecer
tudo aquilo que já sabíamos
[A palma da mão ao sol, a inclinação suave do sorriso, o olhar que já conhece o fim.]

O Mar é isso
ou o seu contrário
ou a sua carência,
e por ela sentimos o vão incerto da maré
dissolvendo para sempre o odor perene
na férrea maresia
oxidando a memória
e a matéria da medusa
e da âncora
e do fio,
que aos poucos
se desfaz para mais à frente refazer
a substância da saudade
escondida na pele infinita do oceano.

jef, 8 de março de 2018

quarta-feira, 7 de março de 2018

Sobre o filme «Geada» de Sharunas Bartas, 2017















Rokas (Mantas Janciauskas) é abordado numa noite, talvez algures em Vilnius, por um amigo para fazer uma entrega de mercadoria humanitária na Ucrânia, país em guerra entre nacionalistas e separatistas. Aceita levar uma carrinha de roupas e alimentos e convida a namorada Inga (Lyja Maknaviciute) para ir com ele. Partem da Lituânia, através da Polónia, até chegar ao Leste da Ucrânia. Donbass. 2015.

Parece um argumento simples. A guerra parece, sob certos aspectos, uma actividade humana, recorrente e bastante simples. Mas não é. E não entendo a razão pela qual Sharunas Bartas teima em não determinar, durante mais de duas horas, qual é a perspectiva que deseja dar sobre aquela guerra civil.

Rokas e Inga aceitam o trabalho não remunerado sem viço, avançam pelos territórios sem GPS, nem convicção. Não são voluntários, nem mercenários, nem jornalistas, nem turistas, nem activistas, nem sequer amantes muito amorosos. Ele não desarma o seu fácies sorumbático, ela, o seu sorriso um pouco ausente.

Aprendem que a ajuda humanitária e o jornalismo de guerra são discutidos entre lençóis desfeitos e taças de vinho, em hotéis caros. Constatam que à frente de guerra não se chega em viagem lowcost. Afinal, em Donbass não encontram resorts com coqueiros.

Parece-me bem que «Geada» é um filme inconsequente, inconsciente e perigoso sobre um assunto fulcral da actualidade. Todos nós sabemos o que custa viver em Goutha Oriental - Síria. Todos devíamos estar conscientes de como a ONU, os voluntários e os corredores humanitários, teimam em fazer chegar alimento e medicamentos sob um ‘cessar-fogo’ infernal e tão difícil de negociar.

A guerra não é um passatempo. E, já agora, o amor até pode ser um passatempo, mas não é coisa despicienda ou alienável.

jef, março 2018

«Geada» (Frost) de Sharunas Bartas. Com Mantas Janciauskas, Lyja Maknaviciute, Andrzej Chyra, Vanessa Paradis. Polónia / Lituânia / França / Ucrânia, 2017, Cores, 132 min.

terça-feira, 6 de março de 2018

Sobre o filme «Tu, que Vives» de Roy Andersson, 2007



















«Deleita-te então, tu, que vives, com este lugar aquecido pelo amor antes que o funesto Letes te banhe o pé fugidio.»

A epígrafe vem de Goethe e Letes (ou Lete) vem de uma estranha alegoria dessa Grécia antiga e fantasiosa. Rio ou fonte do Esquecimento, afluente do Hades, filha de Eris, deusa da Discórdia. Quem bebesse da sua água esquecia a vida anterior, terrena e subterrânea, e podia abraçar a nova existência. Platão sabia isso.

No filme, ouve-se insistentemente «Amanhã também é dia…». Um vago e triste plágio da frase de Scarlett O’Hara. O amanhã não como recomeço prometido mas como descrença adiada por mais um dia. O médico psiquiatra diz que está cansado de tentar fazer felizes pessoas más. A namorada do guitarrista tem um belo sonho onde se casa e é felicitada por uma multidão feliz que vê a casa dos noivos levantar amarras. Os músicos de uma banda militar fazem ensaios nas suas próprias casas, apesar do som, da família, dos vizinhos. O empregado do bar toca a sineta e anuncia que é a hora para o último pedido. A humanidade deve esquecer a sua vida anterior e olhar para o céu de onde chegará o deus que desembaraçará a tragédia do dia-a-dia.

Este pode ser o sumário deste filme de intimidade escrutinada pela sociedade; cenários rigorosamente construídos, de marcações de cena milimétricas; guarda-roupa, cores, iluminações tão precisos que as palavras (tão importantes!) podiam ser dispensadas. Como nos filmes nostálgicos de Buster Keaton, Charlie Chaplin ou Jacques Tati. Porque os filmes de Roy Andersson são sempre comédias trágicas sobre o futuro que não resolve o passado. Sobre o Esquecimento que não resolve a Discórdia.

jef, março 2018
                                                            
«Tu, que Vives» (Du Levande) de Roy Andersson. Com Jessika Lundberg, Elisabet Helander, Björn Englund, Leif Larsson, Ollie Olson, Kemal Sener, Hakan Angser, Birgitta Persson, Gunnar Ivarsson. Fotografia: Gustav Danielsson, Música: Robert Hefter. Suécia, 2007, Cores, 90 min.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Sobre o filme «Eu, Tonya» de Craig Gillespie, 2017



















Eis uma comédia expressionista sobre tudo o que há de mais sério. A América suja, triste, paupérrima, sem eira nem beira, onde o sonho americano é substituído pelo desespero que busca a fama e o dinheiro.

Baseados em factos atrozmente reais, o realizador Craig Gillespie provoca um documentário falso que persegue uma ficção real. Se nos rimos é porque nos custa ver personagens próximas da realidade a cair no abismo da sua própria caricatura, onde a violência doméstica, a violência verbal, a violência social, apenas nos indica como a arte na América é criada sobre os próprios escombros.

Tonya Harding (Margot Robbie) tem um enorme talento para a patinagem no gelo. [Essa arte em esforço, rodopiando fria sobre lâminas.] A mãe LaVona (Allison Janney) sabe isso e tenta que ela, desde pequenina, venha a ser a melhor patinadora do mundo. E consegue. A treinadora Diane Rawlinson (Julianne Nicholson) conhece a competência de Tonya para vencer. O marido Jeff (Sebastian Stan), com quem se casa aos 18 anos, também. Todos fazem o impossível. Mesmo que o crime esteja por perto e sejam acusados, próximo das Olimpíadas de Inverno de 1994, de maltratar brutalmente a rival, Nancy Kerrigan.

Um dos grandes trunfos do filme são as interpretações de Margot Robbie, Allison Janney e Sebastian Stan. Outro é a narrativa de Craig Gillespie feita de planos rápidos, truncados, quase aflitos, dando expressão a um quadro único de resistência à agressividade e à contrariedade social.

O filme torna-se muito particular, sendo uma das comédias mais violentas que vi ultimamente, ao revelar a capacidade humana das personagens de serem agressor e agredido, de suportar o vexame, serem ridículos e tristes, e ainda assim, continuarem em frente.

jef, março 2018
                                                                      
«Eu, Tonya» (I, Tonya) de Craig Gillespie. Com Margot Robbie, Allison Janney, Bobby Cannavale, Julianne Nicholson, Caitlin Carver, Sebastian Stan. EUA, 2017, Cores, 120 min.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Subcortex














– Não entendo o que se passa contigo.
– É dos sonhos.
– Sonhaste?
– Mau sonho.
– Pesadelo?
– Não, um bom sonho mas ao contrário da realidade.
– Andas a ver filmes a mais. Sempre to disse.
– Mas os filmes são bons…
– Tão bons quanto o teu bom sonho mau?
– Diferentes. O sonho é como uma reportagem da ficção.
– E o filme?
– É a realidade de um sonho.
– Então a realidade é que não presta?
– Ora aí está! Tu é que passas a vida a pensar que ela é boa.

jef, fevereiro 2018